Na maioria dos casos, a polícia invocou regras sobre assembleias públicas e de saúde, introduzidas para prevenir a propagação da covid-19, como fundamento para a detenção.
“Os repórteres independentes na Rússia têm estado debaixo de ataque durante anos, com os recentes processos penais a elevar a repressão a um novo nível”, disse Damelya Aitkhozhina, investigadora russa da Human Rights Watch, em comunicado da organização.
“As pessoas têm todos os motivos para protestar pacificamente contra a repressão, e as autoridades têm a obrigação de permitir que o façam em segurança. Em vez disso, detiveram manifestantes pacíficos ao abrigo de regras abusivas e restritivas do direito de reunião, a pretexto de proteger a saúde pública, expondo-os ao risco de infeção sob custódia”.
Em 03 de julho, 17 pessoas foram detidas em frente ao edifício do Serviço Federal de Segurança (FSB) em Moscovo, quando protestavam contra a perseguição de Svetlana Prokopyeva pelo seu trabalho jornalístico. A maioria dos detidos eram jornalistas, segundo a ONG.
No dia seguinte, mais dois jornalistas foram detidos em Pskov, onde Prokopyeva estava a ser julgada.
Em 07 de Julho, 28 jornalistas e ativistas foram detidos no mesmo local, durante um protesto contra as acusações de traição feitas a Ivan Safronov, conselheiro da Roskosmos, a agência espacial russa, e antigo jornalista da Kommersant.
“Nos três incidentes, os manifestantes distanciaram-se uns dos outros, realizando o que é conhecido na Rússia como ‘piquetes de uma só pessoa'”, salientou a Human Rights Watch.
Igor Yasin, co-presidente do sindicato de jornalistas e trabalhadores dos ‘media’, citado pela ONG, disse que os jornalistas ficaram chocados quando souberam, em 03 de Julho, que o Ministério Público pedia uma pena de seis anos de prisão para Prokopyeva e uma proibição do exercício de jornalismo de quatro anos.
Olga Churakova, uma repórter veterana, disse à ONG que decidiu protestar porque o jornalismo se tornou “quase impossível na Rússia, e os jornalistas estão a ser detidos de dois em dois dias”.
Nos três incidentes, os protestos pacíficos foram recebidos “com uma presença policial esmagadora”, acusou a ONG.
Os manifestantes usaram cartazes com slogans como “Jornalismo não é crime” e “Não à prisão por palavras”, ou “Free Svetlana Prokopyeva” e “Free Ivan Safronov”.
Ao abrigo da lei russa, os manifestantes não são obrigados a notificar as autoridades com antecedência no caso de um piquete solitário.
Os jornalistas garantiram à ONG que em Moscovo apenas uma pessoa se encontrava de pé com um cartaz, a cada momento, e que em Pskov os dois manifestantes cumpriram o requisito de distância de 50 metros, necessário para se qualificarem como protesto solitário.
A polícia alegou que os protestos solitários tinham o mesmo objetivo, classificando-os como uma só assembleia pública, disse a HRW.
Em 3 de Julho, advogados dos manifestantes que foram levados para uma das duas esquadras de polícia não tiveram acesso aos seus clientes durante a primeira hora, e por ordem do chefe da esquadra, foram mantidos fora do edifício, denunciou a HRW.
De acordo com a organização, os advogados só tiveram acesso aos seus clientes depois de membros da Comissão de Monitorização Pública, um organismo independente que fiscaliza as condições de detenção, ter decidido intervir.
A Human Rights Watch está também preocupada com a saúde dos jornalistas, detidos em autocarros da Polícia sem condições de distanciamento social, acusou a organização.
Num dos casos, 17 jornalistas tiveram de permanecer “durante horas” no veículo, “expondo-os potencialmente ao risco de contraírem covid-19″, apesar de haver “mais dois autocarros vazios estacionados ao lado”, denunciou a HRW.
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