Depois de fazer o ponto de situação do número de casos confirmados de infeção, de mortes e recuperações em Portugal — um total de 2995 casos confirmados de infeção, 43 mortes e 22 recuperações —, António Lacerda Sales, secretário de Estado Saúde, salientou que "Portugal está prestes a entrar na terceira fase da pandemia, a fase de mitigação, que é a fase mais crítica".
Isto coloca a todos os portugueses "responsabilidades acrescidas", salientou. "A cada um de nós cabe a sua própria auto-proteção e a proteção dos que nos são mais queridos", em particular "as pessoas com mais de 70 anos".
"Quase 80% dos óbitos associados à covid-19 em Portugal até à data registam-se entre pessoas com 70 anos ou mais. A letalidade desta doença é de facto muito maior entre os idosos", reiterou.
Neste sentido, o responsável assumiu que uma grande preocupação com os lares de terceira idade. "Insistimos na importância dos planos de contingência destas instituições". "Estamos a trabalhar em conjunto com o Ministério da Segurança Social e do Trabalho e com o Ministério da Defesa para poder dar todo o apoio e respostas a estas instituições", disse.
Já sobre os stocks de material de proteção, garantiu que é uma questão que continua a ser acompanhada. "À medida que estes materiais vão chegando vamos distribuindo onde é mais preciso, ao mesmo tempo continuamos a identificar oportunidades no mercado [para aquisição]".
Abordando as diferenças entre aquilo que são os números presentes no relatório e os que vão sendo avançados por autarcas locais e autoridades de saúde regionais, o secretário de Estado da Saúde salientou que no boletim divulgado a cada dia constam os casos reportados até à 00h00 e que portanto "é natural que a realidade possa ter mudado e quem está no terreno possa ter uma noção diferente" dos números.
Lacerda Sales deixou ainda um "obrigado" a quem está em casa a cumprir com as indicações das autoridades de saúde, nomeadamente de isolamento e distanciamento social. "Todos dependemos de todos e todos dependemos dos outros. Sabemos que à medida que o tempo passa fica mais difícil e estamos já a preparar uma resposta ao nível da saúde mental", anunciou.
Tomando a palavra, Graça Freitas, Diretora Geral da Saúde, reiterou que Portugal está agora "em fase de mitigação. Nós estamos na fase 3.2, o que quer dizer que temos transmissão comunitária, ainda não descontrolada e é por isso que esta noite às 00h00 vai entrar um novo plano para abordar a covid-19. Vamos passar das medidas da fase de contenção para a fase de mitigação. A transição pode ter alguma turbulência e estamos aqui para resolver os obstáculos que forem existindo".
Perguntas dos jornalistas
1) Há mais casos confirmados nas sua autarquias do que os casos reportados pela DGS. Por que não incluir no relatório — que na descrição por concelho só faz referência a uma percentagem dos casos confirmados — todos os casos?
"Há dados que estão absolutamente certos. Por volta da 00h00 todos os óbitos são reportados", garante Graça Freitas. "O número de mortes é inquestionável, a não ser que haja um erro na codificação. Depois há dados mais finos, nomeadamente esses por concelho, que é uma variável que pode não vir preenchida. Só conseguimos colher informação dos que vêm preenchida. Estamos a afinar", acrescentou. "Não há nenhum objetivo de enganar, mentir ou omitir", reiterou. " Se o dado não coincide na freguesia é porque não chegou até nós".
2) Relativamente a doações, estes pedidos estão a ser centralizados?
"Têm sido muitas [as doações] e começo por agradecer a mobilização da sociedade civil, das diferentes instituições, de todos aqueles que se têm predisposto a essas doações. Como sabem, na plataforma Covid-19 [da DGS] existe um espaço que centraliza todas essas doações e que nos permite com certeza fazer uso" das mesmas, informou Lacerda Sales.
3) Já chegaram os testes e materiais encomendados e como serão distribuídos?
"Os 80 mil testes que dissemos que chegariam até ao final da semana ainda não chegaram, portanto prevemos que cheguem até domingo. O número de testes tem mantido e acompanhado o número de casos e são sempre dinâmicos — por exemplo, atualmente a capacidade diária de resposta do SNS é de cerca de 6 mil testes diários, complementados com as capacidades dos convencionados, de mais 2600 testes", informou Lacerda Sales. Existe ainda "uma capacidade de reserva para os próximos dias de 24 mil testes", acrescentou o responsável. A par, começará a ser "avaliada a pertinência dos testes rápidos".
4) Estamos em risco de ter uma situação crítica nos lares? Com quem devem falar os lares que precisem de orientações das autoridades de saúde?
A política será de separação, nos lares, entre doentes covid-19 e doentes não covid-19. Esta separação física deverá ser assegurada pelas casas de repouso, se possível, caso contrário cabe às autoridades locai encontrar uma solução para que tal se materialize, disse Graça Freitas.
Oa lares devem falar com os delegados de saúde que por sua vez articulam com o presidente de câmara. É a estas duas entidades que cabe cumprir a norma de separação das pessoas, explicou.
Já sobre a disponibilidade de testes para idosos e funcionários destas instalações, a Diretora Geral de Saúde salientou que será alargada a capacidade a centros públicos e privados, devendo os lares recorrer ao laboratório mais próximo.
5) Quantas unidades estão aptas — públicas e privadas — para receber doentes?
"Nós na primeira fase tínhamos um canal privilegiado para hospitais de referência e depois alargamos esses hospitais, mas era um modelo confinado a alguns estabelecimentos de saúde", começou por explicar Graça Freitas.
"O que vai mudar é que abrimos completamente este modelo. Os doentes vão sobretudo ser acompanhados em domicílio — cerca 80% dos doentes terá sintomatologia ligeira. Depois, um grupo de doentes com sintomas um bocadinho mais graves irá ao seu centro de saúde e já todos terão a sinalética das áreas dedicadas a pessoas covid e não-covid. Numa determinada área geográfica pode decidir-se que em vez de dividir todos os centros de saúde, elege-se um para ficar dedicado a doentes covid. O que interessa é sempre esta separação. Depois, vamos ao terceiro patamar: os doentes mais graves são encaminhados pela linha SNS24 para uma urgência hospitalar, para serem vistos por um médico de hospital, testados na altura, e aí decide-se se seguem para um quarto patamar que é o do internamento — sendo que esse internamento nas pessoas muito graves pode ser direto através do INEM", detalhou a responsável de saúde. A exceção é para os IPO, que não vão internar doentes covid-19, acrescentou.
6) Várias câmaras municipais estão a realizar desinfeções em vias públicas. Esta prática é eficaz no combate ao coronavírus?
"Sou fortemente a favor da limpeza em geral e da higiene em geral. Dito isto, para o covid-19 não há muita evidência de ser muito eficaz", reconheceu a Diretora Geral de Saúde, referindo-se aos dados científicos disponíveis à data.
7) Considerando a dissonância de dados no boletim, a DGS pondera alterar a forma como recolhe a informação?
"No geral vamos manter a metodologia para aqueles indicadores que são sólidos: para a morte não vamos mudar nada, para o número de casos não vamos mudar nada, isso é o circuito do sistema [informático] sobre a mortalidade e do sistema de declaração de doenças obrigatórias. Nos outros dados mais finos, que ocorrem mais a nível dos concelhos e freguesias, pode haver aqui uma melhoria na recolha destes dados com um sistema complementar. E estamos a trabalhar no afinamento dessas ferramentas para captarmos o nível mais fino na informação. No nível macro da informação, nomeadamente número de casos, número de óbitos, aí não vamos alterar rigorosamente nada porque temos duas plataformas muito boas e muito consistentes hoje que registam quer os óbitos quer os casos de doença", respondeu Graça Freitas.
8) Como é que as autoridades de saúde regionais estão a acompanhar a quarentena obrigatória?
"Saiu hoje um despacho para conseguir alguma uniformidade a nível nacional", assinalou Graça Freitas, detalhando que "cada município e respetiva autoridade de saúde avaliou o risco do seu município — ou seja, quantos casos existem nesse município, quantos casos podiam potencialmente surgir — e depois puseram restrições a pessoas vindas de fora e que tinham de ficar de quarentena".
A Diretora Geral de Saúde salientou que não se impediu a entrada pessoas vindas de fora, mas antes de introduziu um mecanismo de controlo "porque nós não temos capacidade de investigar ao pormenor se estas pessoas estiveram em contacto com doentes ou vieram de áreas muito afetadas", assumiu.
A responsável de saúde acrescentou ainda que se está a ter especial cuidado com as importações porque "a ciência ainda não consegue dar resposta se estes vírus estão a sofrer mutações ou não, e isso pode alterar o padrão epidemiológico no nosso país".
9) Qual é a distribuição de ventiladores nos hospitais?
A distribuição de ventiladores "será feita de acordo com as necessidades" e as necessidades "poderão ser proporcionais com aquilo que serão os maiores centros" populacionais, assume Lacerda Sales, acrescentando que foram encomendados mais 500 ventiladores para reforçar a capacidade de ventilação, sem porém detalhar a sua distribuição.
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