A ONU declarou-se "horrorizada" com o agravamento da violência na Síria, e pediu para ter acesso imediatamente a Alepo.
Pelo quinto dia consecutivo, uma sequência de foguetes, obuses e barris de explosivos caiu sobre a segunda maior cidade da Síria, o que provocou tremores nos edifícios e um barulho assustador.
"As Nações Unidas chamam todas as partes a interromperem os ataques indiscriminados contra os civis e as infraestruturas civis", afirmaram o coordenador humanitário da ONU para a Síria, Ali al Zaatari, e o coordenador humanitário regional, Kevin Kennedy.
Zaatari e Kennedy disseram que a ONU tem um plano para ajudar a população sitiada de Alepo.
A conselheira americana para a segurança nacional, Susan Rice, indicou que os Estados Unidos condenam "os terríveis ataques contra instalações médicas e trabalhadores humanitários".
"Não há desculpas para esses atos atrozes", declarou em Lima, considerando que "o regime sírio e os seus aliados, a Rússia em particular, são responsáveis pelas consequências imediatas e a longo prazo de tais atos".
Dia 'catastrófico'
Os Capacetes Brancos (grupo de socorristas na zona rebelde) publicaram este sábado, na sua página do Facebook, alguns vídeos e fotografias que demonstram a violência dos ataques.
"É um dia catastrófico em Alepo, cercada por ataques aéreos sem precedentes com todo o tipo de armas", escreveram.
"Praticamente nenhum bairro do leste de Alepo está hoje livre dos ataques do regime", afirmou à AFP Rami Abdel Rahman, diretor da ONG Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).
Desde terça-feira, quando o regime de Bashar al-Assad retomou os ataques após um hiato de um mês, pelo menos 92 civis morreram nos ataques contra os bairros controlados pelos rebeldes na cidade.
As tropas de Assad, que dominam os bairros da zona oeste da cidade, desejam reconquistar a qualquer custo a parte leste de Alepo, dominada pelos rebeldes desde 2012.
A cidade, que já foi a capital económica do país, tornou-se na principal frente de batalha de um conflito que provocou mais de 300.000 mortes desde 2011.
'Bombardeamentos selvagens'
As escolas da zona leste de Alepo anunciaram, num comunicado, a suspensão das aulas este sábado e domingo para garantir "a segurança dos alunos e professores após os ataques selvagens".
Nos últimos dias, as bombas atingiram centros médicos e deixaram os 250.000 habitantes que, segundo estimativas, ainda moram nos bairros da zona leste, numa situação dramática.
Na passada sexta-feira, 18 de novembro, um bombardeamento no bairro rebelde de Maadi destruiu parcialmente um dos últimos hospitais da região. Dois pacientes morreram e vários enfermeiros ficaram feridos.
Para além disso, o último hospital pediátrico que permanecia aberto teve de ser evacuado, depois de atingido por barris de explosivos na quarta-feira, informou a Associação dos Médicos Independentes (ADI), ONG que administra o local.
Para a organização Médicos Sem Fronteiras (MSF), este é um "dia negro para o leste de Alepo, onde os violentos ataques provocaram graves danos nos poucos hospitais que ainda poderiam proporcionar cuidados médicos".
"As forças do regime querem combinar os ataques aéreos e a fome provocada pelo cerco para obter a rendição dos rebeldes", afirma Thomas Pierret, especialista sobre a Síria e professor da Universidade de Edimburgo.
A Rússia, que apoia o regime de Damasco há mais de um ano, não participa nos ataques em Alepo, mas executa uma ofensiva na província de Idleb (noroeste), controlada por uma aliança de rebeldes e jihadistas.
Para muitos analistas, Damasco e seus aliados desejam ganhar tempo antes da posse do futuro presidente americano, Donald Trump, em janeiro de 2017.
"Está claro que Moscovo, Damasco e Teerão querem reconquistar rapidamente o leste de Alepo. O governo dos Estados Unidos está paralisado, querem apresentar a Trump um fato consumado em janeiro", explica Fabrice Balanche, especialista em questões sobre a Síria, do Washington Institute, um centro de estudos americano.
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