O espetáculo "Reenact Now #2: A Ilha dos Escravos (1969 - 2025)" parte do guião levado à cena em 1969, por sua vez baseado na peça de teatro “A Ilha dos Escravos”, criada no século XVIII pelo dramaturgo francês Pierre de Marivaux “como um espaço de confronto entre escravos e patrões, situado algures no universo da Grécia Antiga, onde a inversão de papéis sociais representa um esforço importante de renovação da ordem vigente e uma reflexão acerca da condição humana”, escreveu o TAGV, numa nota enviada à agência Lusa.

“No final da década de sessenta do século XX, entre o cheiro a pólvora que inebriava os estudantes e antecipava Abril, o texto do dramaturgo francês é pela primeira vez apresentado em Portugal, livremente traduzido e atualizado pelo TEUC” [Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra].

“A trama oitocentista, aprovada pela censura, transforma-se numa reclamação burlesca da liberdade e da renovação do teatro português, que tinha como principais aliados os grupos de teatro académico”, vincou o TAGV.

Na altura, e após algumas récitas, o espetáculo do TEUC viria a ser proibido, “porque também a censura havia compreendido que a análise do texto dramático já não bastava para adivinhar as intenções dos inquiridos”.

Este ano, a comemoração, em Coimbra, do Dia Mundial do Teatro – com apresentação marcada para quinta-feira, às 21:30, pela companhia Visões Úteis – leva à cena um projeto “cujo principal objetivo implica, à priori, uma condição impossível: voltar atrás no tempo”, assinalou o TAGV.

Citada na nota, Joana Ferrajão, diretora da segunda edição do “Reenact Now”, notou ter sido acolhida “de porta escancarada” na abertura do arquivo do TEUC, “com a generosidade e a desenvoltura que caracterizam os 87 anos de história que alberga”.

“Mas rapidamente compreendi que era necessário pensá-lo para lá dos limites de uma sala organizada, com objetos devidamente inventariados e conservados. Os papéis perdidos e rasgados, o pó, a humidade das paredes, contavam também uma história”, enfatizou.

No arquivo, a dramaturga disse ter encontrado o guião da “Ilha dos Escravos”, o dossiê de produção e os documentos de contestação do TEUC perante a proibição do espetáculo.

“Mais tarde, encontrei um registo em vídeo da RTP e o protagonista do espetáculo de 1969, José Oliveira Barata. A partir deles, comecei a pensar a reconstituição do espetáculo”, explicou.

O espetáculo “Reenact Now” teve uma primeira edição, em 2023, dirigida por Carlota Castro, com base no arquivo do FITEI - Festival Internacional de Expressão Ibérica, nomeadamente a peça “Ibéria Sector 5”, da Companhia Bonifrates.

“Agora é a vez de Joana Ferrajão arriscar (…) um mergulho no arquivo do TEUC, reclamando a companhia Visões Úteis para a viagem”, afirmou o TAGV.