“Quis o destino que os 90 anos do Diário de Coimbra se assinalassem no meio de uma crise com uma dimensão que pensávamos já não ser possível nos dias de hoje. São momentos de angústia, os que estamos a viver, durante os quais precisamos de referências de confiança que nos ajudem a tomar as melhores decisões”, referem, no editorial da edição de hoje, o diretor Adriano Callé Lucas e o diretor adjunto Miguel Callé Lucas.
A direção lembra que nos 90 anos de existência o jornal “esteve um ano sem se publicar por castigo imposto pelo Estado Novo e sobreviveu”. Foi também alvo de “várias armadilhas da PIDE e da censura e a todas soube responder” e, no pós 25 de Abril, “conseguiu manter-se independente e ao serviço de Coimbra e das Beiras”.
“A ameaça agora é outra, mas é muito grave. A pandemia paralisou a nossa economia e a queda abrupta de publicidade, a partir do passado mês de março, coloca seriamente em risco a sobrevivência do Diário de Coimbra, bem como de todos os jornais livres e independentes, que, como nós, vivem exclusivamente das receitas provenientes da publicidade e da venda de jornais (aos assinantes e na banca), não dependendo do Estado nem de quaisquer grupos políticos ou económicos para lhes pagarem as contas”, lê-se.
Adriano e Miguel Callé Lucas só contam “mesmo” com os leitores e anunciantes.
“Ficou, aliás, recentemente, à vista que do Governo só contamos com migalhas. Dos tão propalados apoios do Governo à Comunicação Social, no montante de quinze milhões de euros, cujos critérios de distribuição falta esclarecer, só caberão ao Diário de Coimbra vinte mil euros e para os diários associados de Aveiro, Leiria e Viseu um total de cerca trinta mil euros. Apenas cerca de 0,3% da verba global dos apoios a distribuir”, escrevem.
Os responsáveis prometem tudo fazer para que o diário “continue na sua missão de informar, em defesa das populações de Coimbra e das Beiras”.
“Mas o jornal também necessita agora, urgentemente, para conseguir ultrapassar esta fase tão difícil, de um redobrado apoio dos seus leitores e anunciantes, a quem apelamos para fazerem novas assinaturas do jornal e mais inserções publicitárias aos seus produtos”, rematam.
O Diário de Coimbra foi fundado em 1930 e constitui um caso raro de longevidade no setor.
Fundado por Adriano Viegas da Cunha Lucas (1883-1950), foi liderado por Adriano Mário da Cunha Lucas (1925-2011) durante cerca de seis décadas, período durante o qual fundou os Diários de Aveiro, de Viseu e de Leiria.
Numa mensagem enviada ao jornal, o presidente da República destaca o papel de resistência do Diário de Coimbra.
“Um grande abraço de parabéns, evocando Adriano Lucas. Estivemos juntos na primeira Lei da Imprensa em Democracia e sobretudo evocando o vosso papel, de resistentes. Num tempo de crise. Resistentes por aquilo que é fundamental. Não é apenas o Poder Local, o poder regional. É o que é um pilar do Estado de direito no nosso país. Uma Imprensa forte, uma Imprensa isenta e uma Imprensa independente”, refere Marcelo Rebelo de Sousa.
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