“Quando há uma situação determinística, cai-nos uma guerra em cima ou uma pandemia, é evidente que aí toda a população vai diminuir. Vai diminuir numa fase da vida em que pode atingir não apenas os indivíduos mais idosos, mas também os indivíduos mais jovens e contribuir para que o número de indivíduos que vêm a atingir idades mais elevadas diminua”, afirmou, em declarações à Lusa, José Rueff, diretor do Centro de Investigação em Genética Molecular Humana da Universidade Nova de Lisboa.
Em 2017, em entrevista ao Expresso, José Rueff admitia que só uma situação de catástrofe como uma epidemia ou uma guerra poderia impedir um caminho que lhe parecia certo: o de os portugueses atingirem os 100 anos como esperança média de vida à nascença.
A pandemia de 2020, ainda em curso, veio baralhar as contas e é agora preciso ter em conta não só o número de idosos que morrem de covid-19, mas também os jovens, sobretudo aqueles em idade reprodutiva, penalizando a possibilidade de renovação e rejuvenescimento populacional.
“A população vai eventualmente tender a diminuir e ao diminuir, diminuem indivíduos que são mais velhos, mas que já não procriam, mas também diminuem os mais novos que também não vão procriar”, disse o especialista.
José Rueff deu o exemplo da Roma Antiga, onde a esperança média de vida era de 25 anos, para mostrar o quanto se evoluiu fruto da melhoria das condições de vida, das condições sociais, da qualidade da alimentação e da assistência e tecnologia médica, que permitem viver já quase 100 anos, mesmo que com doenças graves.
“Os cuidados médicos, os hospitais, as novas tecnologias médicas, de intervenção, de diagnóstico, fazem com que há 40 ou 50 anos os indivíduos morreriam muito mais cedo porque tinham por exemplo um cancro, veem agora a conseguir ter a sua vida mais prolongada. Os ingleses chamam de ‘Grey Generation’, a geração dos cabelos brancos”, explicou José Rueff, acrescentando que, ainda que variando de país para país, doenças graves, crónicas ou degenerativas não impedem que possam viver até mais de 90 anos.
As estatísticas oficiais demonstram o impacto da pandemia nos mais velhos em Portugal, sobretudo ao nível da mortalidade.
Os números do último relatório do INE sobre a mortalidade em Portugal no contexto da pandemia de covid-19 refletem que desde o início da pandemia até ao dia 27 do passado mês de dezembro morreram mais 12.852 pessoas do que no mesmo período dos últimos cinco anos. 52,0% (6.677) destes óbitos foram devido à covid-19 e 70%” dos mortos tinham idades superiores a 75 anos.
Portugal envelheceu nas últimas décadas: aumentou o número de pessoas idosas no total da população residente, diminuiu a natalidade e aumentou a esperança média de vida à nascença. Numa década duplicou o número de centenários: em 2011 eram 2.068 com 100 ou mais anos e no final de 2019 o total era de 4.243.
De acordo com dados da Pordata, em 2019, Portugal tinha entre a sua população residente um idoso para cada três pessoas em idade ativa. A esperança média de vida cresceu quase 20 anos entre 1960 e 2018. Em 2018 era de 78 anos para os homens e 83,5 para as mulheres.
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