Numa entrevista à Rádio Renascença, Rui Abrunhosa admite que “não contava que saíssem tantos reclusos" e lembra que “até final do ano devem sair mais”.

"Fiquei surpreendido e não contava que saíssem tantos reclusos! Desde o dia 1 de setembro, saíram mais de 160 e tal e eu pensava que saíam uns 50 apenas. Até ao final do ano devem sair mais”, diz o responsável pela Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais (DGRSP).

A lei do Governo que estabelecia o perdão de penas e amnistia de infrações praticadas por jovens a propósito da Jornada Mundial da Juventude abrangia crimes e infrações praticados até 19 de junho por jovens entre 16 e 30 anos, determinando-se um perdão de um ano para todas as penas até oito anos de prisão.

Entre as exceções ao perdão e amnistia estavam quem tivesse praticado crimes de homicídio, infanticídio, violência doméstica, maus-tratos, ofensa à integridade de física grave, mutilação genital feminina, ofensa à integridade física qualificada, casamento forçado, sequestro e crimes contra a liberdade e autodeterminação sexual.

Estavam igualmente excluídos os crimes de extorsão, discriminação e incitamento ao ódio e à violência, tráfico de influência, branqueamento e corrupção.

Rui Abrunhosa Gonçalves, que diz que, nesta altura, há pouco mais de 12.500 reclusos nas prisões, recusa a ideia generalizada de sobrelotação, embora admita que em alguns estabelecimentos isso possa acontecer.

Olhando para o anterior momento de saída em volume de reclusos, aquando da pandemia de covid-19, o responsável esclarece que 2.155 reclusos deixaram as prisões e foram passadas 960 licenças de saída administrativa extraordinárias.

"No caso dos libertados, só 21,6% voltaram ao crime e dos outros (as licenças) só 123 reclusos viram as saídas revogadas. Que conclusões tiramos? Que libertámos quem não representava risco e que, se calhar, essas pessoas podiam ter ficado desde logo em liberdade a cumprir pena”, explica, na entrevista à RR.

Neste momento, são cerca de 30 mil as pessoas a cumprir pena na comunidade com recurso a penas alternativas.

Cada recluso custa ao Estado 56 euros por dia e, para o diretor-geral da DGRSP, “aqui a economia é importante” e quantas mais pessoas se puder ter fora das prisões mais se poupa: "É multiplicar por 365 dias e depois por 12.500 reclusos, é muito dinheiro”, afirma.

Na primeira entrevista desde que tomou posse, Rui Abrunhosa Gonçalves defende que o Governo deve investir no reforço de guardas prisionais e de profissionais dos centros educativos, sob pena de, daqui a seis anos, não haver gente para trabalhar nestes locais.