Os diretores artísticos dos teatros nacionais D. Maria II, em Lisboa, e S. João, no Porto, Tiago Rodrigues e Nuno Cardoso, respetivamente, contam-se entre as cerca de duas dezenas de subscritores da mensagem, intitulada "A Cultura é segura".
“Por mais difícil que seja a situação, seja de ataque, guerra ou pandemia, estamos prontos para trabalhar, e com segurança. Nunca consideraremos normal os teatros estarem fechados”, lê-se na carta em que a primeira subscritora é a diretora do Teatro Nacional da Catalunha (TNC), Carme Portaceli, seguida do diretor do KVS de Bruxelas, Michael de Cock.
“Nestes tempos difíceis em que tanto ansiamos por esperança, coloriremos o mundo com a imaginação de que necessitamos para sobreviver e continuar a ser humanos”, lê-se na missiva.
No texto, “os diretores expressam o seu desejo de que as companhias de teatro de toda a Europa possam voltar a trabalhar em breve”, e recordam a experiência ganha e que os protocolos de segurança se mantêm ativos.
Acrescentam estarem conscientes da gravidade da situação e do “terrível impacto da covid-19 nas nossas vidas", pelo que defendem a manutenção das regras de segurança, sem qualquer cedência ou abrandamento.
Fazem porém um apelo a favor da cultura, “porque não somos apenas corpos", escrevem. "Temos também outras necessidades essenciais, como manter o nosso bem-estar mental, ser compreendidos, partilhar histórias e desfrutar da beleza”.
Citam, a propósito, o poeta espanhol Federico García Lorca que, quando interrogado sobre o que necessitava, caso tivesse fome, respondeu: ”Não pediria um pão, mas sim um pão e um livro”.
“Ele compreendeu a importância de alimentar o espírito”, sublinham os subscritores da carta.
Não é a primeira vez na história que se encerram teatros, já que o mesmo ocorreu durante a Segunda Guerra Mundial ou em consequência de ataques terroristas em várias cidades europeias, mas trataram-se sempre de “medidas excecionais”, recordam.
“Nunca devemos encarar esta situação como algo normal”, acrescentam.
Na opinião dos diretores dos teatros que assinam a carta, após meses de pandemia, “as pessoas estão cansadas e deprimidas e nenhum antidepressivo funciona melhor do que as pessoas estarem juntas de forma segura”.
“Podemos assegurar que os teatros modernos estão tão bem ventilados em Bruxelas como no Porto. E a gestão de multidões em Paris e Amesterdão é tão boa como a gestão de público em Barcelona”, asseguram.
Por isso, exigem que, no âmbito de iniciativas como a Between Lands, projeto de coprodução que envolve o TNSJ, a Opera Europa, de apoio às companhias de ópera, e a Convenção Europeia de Teatro, sejam realizadas consultas e "se desenvolva uma visão conjunta do que é cultura e o que pode significar, nestes tempos excecionalmente difíceis e históricos".
Entre os subscritores da carta encontram-se igualmente Fabrice Murgia, do Teatro Nacional de Bruxelas, Peter de Caluwe, do De Munt - Teatro Real de La Monnaie, Milo Rau, do NTGent, Serge Rangoni, do Teatro de Liège, Prospero e da Convenção Europeia de Teatro, Guy Casiers, do Maud Van de Velde, do Toneelhuis, de Antuérpia, Chloé Dabert, da Comédia de Reims, e Wajdi Mouawad, do Teatro Nacional de La Colline, de Paris.
Giuliano Barbolini, da Fundação de Teatro Emilia Romagna, de Modena, Alfredo Sanzol, do Centro Dramático Nacional, de Madrid, Txema Viteri, do Teatro Calderón de Valladolid, e Claudio Longhi, do Piccolo Teatro di Milano, são outros dos subscritores.
Comentários