Com um arranque morno, foi a tarde de sábado que trouxe ao palco do Congresso de Viana do Castelo as divisões que marcaram os últimos dois anos do partido, com o mote a ser dado pelo antigo líder parlamentar Hugo Soares, ao avisar que o PSD não pode ser “socialista de segunda” e recebeu assobios e aplausos.
O clima tenso na sala repetiu-se com o discurso do candidato derrotado Luís Montenegro, que apesar de ter prometido contribuir para a “paz e unidade” no PSD, citou uma frase do fundador Sá Carneiro para avisar que não se calará.
Montenegro pediu também que não haja equívocos na atual legislatura e que “se o apoio da geringonça ruir”, o PSD não será “a tábua de salvação” de António Costa.
Num outro tom, Miguel Pinto Luz, que ficou pelo caminho na primeira volta das diretas, insurgiu-se contra “o cinismo" de "senadores" que esperam na reserva um mau resultado do partido nas autárquicas, e disse que as eleições internas “já lá vão”.
Da parte da direção, a estratégia foi colocar destacados apoiantes de Rui Rio a responder imediatamente a estas intervenções, como o vice-presidente Salvador Malheiro - que questionou quantos votos o PSD perdeu com a “guerrilha interna” - ou o secretário-geral, José Silvano.
Foram vários os congressistas a vaticinarem que Rui Rio vai ser primeiro-ministro mais cedo do que se julga, entre eles o eurodeputado Paulo Rangel, que avisou António Costa que, na próxima dramatização política, terá mesmo que se demitir.
A eutanásia passou por alguns discursos e uma moção temática, mas foi Rangel que o colocou de forma mais acutilante, ao defender que o tema deve passar por um referendo, em vez de ser decidido “nas costas dos portugueses”.
Rio, em declarações aos jornalistas, não se compromete em defender uma consulta popular - embora pessoalmente seja contra - e não quis alimentar outras polémicas internas.
Logo na sexta-feira, quando falou sobretudo para o partido, o presidente reeleito prometeu para o discurso de hoje denunciar as “falhas da governação” socialistas e apresentar alternativas.
As autárquicas de 2021 foram uma constante nos vários discursos, sendo transversal a ideia da urgência de o partido voltar a afirmar-se como uma grande “força do poder local”.
Antes da sessão de encerramento da 38.ª reunião magna, os cerca de 950 delegados votam para os órgãos nacionais do partido entre as 09:00 e as 11:00.
Tal como tinha antecipado, Rio não fez “uma revolução” na sua direção e mudou apenas dois dos seis vice-presidentes: saíram Elina Fraga e José Manuel Bolieiro e entraram os deputados André Coelho Lima e Isaura Morais.
À Comissão Política sobe também o porta-voz para as Finanças Públicas do PSD, Joaquim Sarmento.
Rio manteve a aposta em José Silvano como secretário-geral, em Paulo Rangel como ‘número um’ da lista ao Conselho Nacional e em Paulo Mota Pinto para presidir à Mesa do Congresso.
O ex-líder parlamentar Fernando Negrão foi a novidade do líder para substituir Nunes Liberato no topo da lista para o Conselho de Jurisdição Nacional.
Como habitualmente, as várias sensibilidades do partido espelham-se em dez listas ao Conselho Nacional - mais duas que no último Congresso - e quatro à Jurisdição, órgãos eleitos através do método de Hondt.
Representantes do PS, PCP, CDS-PP, PAN, Verdes, Chega e Iniciativa Liberal assistirão ao discurso de encerramento de Rui Rio em Viana do Castelo, entre os quais o novo líder centrista, Francisco Rodrigues dos Santos, e o presidente dos socialistas, Carlos César.
Comentários