Em declarações aos jornalistas à margem da cerimónia, Alexandre Soares dos Santos disse que não espera “rigorosamente nada” da economia do país.

“Enquanto houver um Governo que não privilegia o investimento da iniciativa privada esqueça. Somos um ‘franchising’ dos caminhos de ferro espanhóis, compramos tudo antigo sem interesse absolutamente nenhum, temos um Serviço Nacional de Saúde que nós não estamos minimamente interessados em mudar”, afirmou o empresário do Grupo Jerónimo Martins, que detém o Pingo Doce.

Confrontado com os dados do Instituto Nacional de Estatística divulgados esta terça-feira, que indicam que o défice orçamental de 2018 ficou nos 0,5% do Produto Interno Bruto, o empresário de 84 anos disse que só acredita quando for o Tribunal de Contas a divulgar os números.

“Não acredito em nada já, na política em Portugal. Não estou zangado. Estou triste, que é pior. Estou triste com a mentira”, declarou, acrescentando ainda que “se o país ainda anda hoje deve-se às universidades e às empresas”.

Alexandre Soares dos Santos mostrou-se ainda “muito feliz” com a distinção atribuída pela UA, adiantando que é o culminar de uma carreira e que nunca pensou que alguma vez teria este título.

“Na minha idade, com o que já passei, é daqueles momentos que a gente jamais esquecerá”, notou.

No seu discurso, o segundo mais rico de Portugal, segundo a revista Forbes, advertiu ainda que as empresas e universidades “não sobreviverão se insistirem em prosseguir concentradas, fechadas sobre os seus propósitos particulares, demasiado preguiçosas para se desafiarem a fazer melhor e a fazer diferente”.

O novo Doutor da UA defendeu também que as universidades devem pugnar pela sua independência face ao Estado, afirmando que “pesam ainda sobre a universidade, enquanto instituição, reminiscências de séculos de dependência relativamente ao poder central e de uma longa tradição de centralismo”.

O reitor da UA, Paulo Jorge Ferreira, salientou, por seu lado, alguns dos contributos que Alexandre Soares dos Santos tem oferecido a esta Universidade, afirmando que quando optaram pelo estatuto fundacional, acerca do qual “havia muitas incertezas”, a sua “visão e rigor foram decisivos para inspirar e reunir todos em torno de objetivos comuns”.

O reitor mencionou ainda algumas iniciativas empreendidas por Alexandre Soares dos Santos e que “em muito contribuíram para a projeção da UA e para a valorização do ensino superior”, designadamente as “Conversas sobre Exportações”, que em 2013 congregaram na UA centenas de empresários, consultores, cientistas e investigadores, artistas e criadores, contrariando o pessimismo vigente e adotando o lema “Portugal tem saída”.

Alexandre Soares dos Santos, nasceu no Porto em 1934. Frequentou o curso de Direito da Faculdade de Direito de Lisboa, que abandonou em 1957, para iniciar a sua carreira profissional, após um convite da multinacional Unilever.

Nesta empresa passou por várias delegações e filiais no estrangeiro e, em 1968, regressou a Portugal para assumir a liderança da Jerónimo Martins, que pelas suas mãos passou de uma empresa de pequena dimensão a um dos maiores grupos empresariais portugueses.

O empresário soube ampliar os negócios e fazer crescer a empresa da família, tendo lançado a marca Pingo Doce, colocado o grupo em Bolsa e expandido-se internacionalmente, em 1995, para o Brasil e Polónia.

Em 2009, criou a Fundação Francisco Manuel dos Santos, que gere o portal “Pordata”, Base de Dados do Portugal Contemporâneo, e lançou uma coleção de livros de Ensaio, a preços reduzidos, sobre temas da atualidade.

Alexandre Soares dos Santos foi convidado em 2009 pela então reitora da UA Helena Nazaré para integrar o primeiro Conselho Geral da Universidade, que haveria de presidir até 2014, tendo assumido entre 2016 e 2018 as funções de Membro do Conselho de Curadores da Academia.