Trata-se das empresas Carlos Romeiro, Lda., com sede em Vila Nova de São Bento, concelho de Serpa, e Candeias & Filho, Lda., com sede em Boavista dos Pinheiros, concelho de Odemira, distrito de Beja, que avançaram com processos em tribunal.

Os gerentes das duas empresas, Carlos Romeiro e Carlos Candeias, explicaram hoje à agência Lusa que avançaram com processos em tribunal após a SCC ter cessado unilateralmente os contratos que tinha com as empresas para distribuição de bebidas e para exigirem indemnizações pelos prejuízos causados, devido às consequentes perdas de atividade, clientes, faturação e imagem.

O pedido de uma indemnização de 1,3 milhões de euros da Carlos Romeiro, Lda. já está a ser julgado, enquanto o julgamento do pedido de 2,8 milhões de euros da Candeias & Filho, Lda. tem início marcado para 28 de junho no Tribunal de Beja.

Contactado pela Lusa, o diretor de comunicação e relações institucionais da SCC, Nuno Pinto Magalhães, escusou-se a falar sobre os casos, argumentado que "é política" da empresa "não comentar processos administrativos ou judiciais, designadamente quando envolvem relações comerciais".

As duas empresas foram distribuidores independentes oficiais exclusivos de bebidas da SCC durante 18 anos, a Carlos Romeiro, Lda. entre 1999 e abril de 2017, nos concelhos de Serpa, Moura, Barrancos e Mértola, e a Candeias & Filho, Lda. entre 1999 e março de 2017, nos concelhos de Odemira, Ourique e Almodôvar, no distrito de Beja.

Segundo os gerentes, a SCC informou a Candeias & Filho, Lda., em dezembro de 2016, e a Carlos Romeiro, Lda., em janeiro de 2017, que iria terminar os contratos com distribuidores independentes e passar a fazer a distribuição das suas bebidas diretamente, através da sua empresa Novadis.

A SCC informou a Carlos Romeiro, Lda. sobre a cessão unilateral do contrato em janeiro, deu-lhe um prazo de três meses e tirou-lhe a distribuição em abril de 2017, disse Carlos Romeiro, referindo que a empresa perdeu atividade, clientes e "65%" da faturação, que, em 2016, o último ano completo do contrato, tinha sido de "2,2 milhões de euros".

A empresa "tem vindo a restruturar-se e virou-se mais para a distribuição de produtos congelados", que, atualmente, representa 90% do negócio, mas "está a ter dificuldades em manter-se", disse Carlos Romeiro.

A SCC informou a Candeias & Filho, Lda. sobre a cessão unilateral do contrato em dezembro de 2016, deu-lhe um prazo de três meses e tirou-lhe a distribuição em março de 2017, referiu Carlos Candeias, referindo que a empresa perdeu atividade, clientes e "entre 70% e 80%" da faturação, que, em 2016, o último ano completo do contrato, tinha sido de "3,1 milhões de euros".

A Candeias & Filho, Lda. mantém-se no negócio de distribuição de bebidas, mas de outras marcas, e teve de aumentar o portefólio de vinhos e águas e também está a ter "dificuldades", disse Carlos Candeias.

Segundo os gerentes, as empresas começaram a perder competitividade, clientes e receitas em 2012, quando a SCC começou a vender bebidas mais caras aos distribuidores independentes do que aos clientes diretos, como supermercados, hipermercados e cadeias de distribuição grossista.

De acordo com os gerentes, segundo os relatórios de perícia dos processos pedidos pelo Tribunal de Beja, as médias de preços de venda aos distribuidores "foram sempre superiores" aos preços praticados junto dos clientes diretos e as diferenças de preços chegaram a ser de 52,6% nas águas em 2013 e de 20,3% nas cervejas em 2015.

Segundo os relatórios de perícia, indicaram os gerentes, devido à diferença de preços praticada, a SCC "contribuiu decisivamente para retirar competitividade" aos distribuidores.

Devido aos prejuízos decorrentes da perda de competitividade, primeiro, e da cessação do contrato, depois, a Carlos Romeiro, Lda. teve de dispensar nove dos 22 funcionários que tinha em 2012 e, atualmente, tem 13, disse Carlos Romeiro.

Já a Candeias & Filho, Lda. não despediu ninguém, porque tal implicaria pagamentos de "avultadas" indemnizações, já que são trabalhadores "com mais de 20 anos de casa", mas tem "um encargo muito grande" com os 10 funcionários que tem atualmente, referiu Carlos Candeias.