“É um documentário sobre um ‘mockumentary’, sobre um programa de reality TV”, de acordo com a sinopse do filme, realizado pelo australiano Chris Phillips e centrado em Osme Gonçalves, que há uns anos inventou um falso programa de televisão para contar a realidade do país.

Os ‘mockumentary’, da união das palavras inglesas ‘mock’ (falso) e ‘documentary’ (documentário), usam o estilo dos documentários para mostrar realidades, recorrendo a sátira ou paródia.

“O Osme é uma pessoa extremamente inteligente que consegue olhar criativamente para as questões de uma forma que muitos não fazem. É um homem interessante que merece ter o seu trabalho destacado”, afirmou hoje à Lusa Chris Phillips.

“Tem um grande coração e uma dedicação enorme ao que faz”, disse o realizador sobre Osme, protagonista do documentário “This is Reality” (Isto é a Realidade).

Osme Gonsalves, que fez parte da resistência à ocupação indonésia, tornou-se nos últimos anos numa estrela das redes sociais, ao inventar uma personagem televisiva que em curtos trabalhos, dominados pelo humor e pelo uso do ridículo, mostra a realidade de Timor-Leste.

O ‘repórter’ Rambo Marabunta ajuda a descrever alguns dos problemas do país, mas, ao mesmo tempo, vai mostrando uma realidade própria, marcada pelo impacto do trauma da infância e juventude.

Para isso, Osme inventou a TVLK onde ‘apresenta’ várias rábulas, em jeito de reportagens televisivas, que acumulam dezenas de milhares de visionamentos nas redes sociais Facebook e Youtube.

Artista, cantor, poeta e ator, Osme tornou-se numa figura de culto entre as camadas mais jovens da população pelo humor irreverente.

“Temos cerca de hora e meia de material editado e já praticamente pronto. Estamos agora a ver se o lançamos ‘online’ ou através de algum canal de televisão”, adiantou Phillips.

Além de “This is Reality”, os outros projetos premiados foram “The Coalface”, sobre o setor do carvão, e “Give as Green”, sobre uma personalidade local conhecida como a rainha do Laksa em Darwin, no norte da Austrália.

Os projetos vão agora receber 100 mil dólares australianos (cerca de 59 mil euros), pagos em partes iguais pela Screen Australia e pela Al Jazeera, para realizar um documentário de 25 minutos a difundir nas plataformas do programa “Witness” desta cadeia de televisão.

O prémio foi atribuído esta semana na Australian Internacional Documentary Conference (AIDC), que decorreu em Melbourne.

“Os ‘trailers’ e propostas apresentadas destacaram-se pela qualidade dos temas, rigor, impacto visual e diversidade de ideias”, notou a responsável da secção de documentários da Screen Australia, Bernardine Lim.

A produtora executiva de “Witness” Fiona Lawson-Baker afirmou esperar poder ver o desenvolvimento de futuros trabalhos das equipas selecionadas e destacou a “gama diversificada de experiências humanas, num cenário de questões globais atuais”, apresentada pelos projetos premiados.

“Representam os melhores talentos documentais emergentes (…) e mal podemos esperar que sejam exibidos no ‘Witness’ para o público global da Al Jazeera”, salientou.