
Desde a morte do Papa Francisco, a 21 de abril, que o Vaticano começou a preparar os passos seguintes. Terminadas as exéquias e as missas em sufrágio do pontífice, com congregações gerais a acontecer em simultâneo, a Santa Sé adaptou tudo o que é necessário para o início do Conclave.
A chaminé, os cortinados e o chão
O primeiro sinal visível de preparação para o Conclave foi a instalação da chaminé no telhado da Capela Sistina. Além disso, foram também instaladas duas salamandras na capela: uma para o fumo preto e outra para o fumo branco. Na quarta-feira, prevê-se o primeiro sinal de fumo a partir das 18h00.
A própria estrutura da Capela Sistina também foi modificada: foi colocado um estrado de madeira no chão e a sala inspecionada para evitar possíveis escutas. As janelas estão isoladas para não haver qualquer forma de contacto com o exterior.
No exterior, os técnicos do Vaticano instalaram cortinas vermelhas na varanda da Basílica de São Pedro, onde o Papa eleito fará a sua primeira aparição pública.
O primeiro juramento
O juramento de segredo sobre o Conclave dos oficiais e funcionários teve lugar na segunda-feira, na Capela Paulina, no Palácio Apostólico do Vaticano.
O juramento, prescrito sobre o Evangelho, foi assinado por todos os participantes do Conclave, que se inicia na quarta-feira, tanto eclesiásticos como leigos, aprovados pelo cardeal camerlengo e pelos três cardeais assistentes, de acordo com a Constituição Apostólica Universi Dominici Gregis.
Esta terça-feira, o Vaticano divulgou algumas fotografias do momento do juramento.
Os alojamentos dos cardeais
A Casa de Santa Marta é o local que tem recebido os cardeais que participam nos conclaves e assim vai ser mais uma vez.
Contudo, devido ao número alargado do Colégio Cardinalício — 133 cardeais e não os habituais 120 — desta vez não existe alojamento para todos no mesmo sítio. Em causa está também o facto de Santa Marta ter servido de casa ao Papa Francisco, pelo que essa ala está ainda encerrada.
Para ultrapassar este contratempo, alguns cardeais vão ficar alojados em Santa Marta velha, outra casa de hóspedes do Vaticano que era utilizada antes da construção da atual, no pontificado de João Paulo II.
As congregações gerais
O Vaticano tem vindo a realizar Congregações Gerais de cardeais, antes do Conclave, encontros que permitem aos eleitores conhecerem-se e perceberem o que cada um deles defende para o futuro da Igreja Católica.
As Congregações Gerais decorrem à porta fechada, juntam cardeais eleitores e não eleitores e o único registo do que lá se passou é feito pela Sala de Imprensa do Vaticano, que tem emitido notas sucintas sobre cada uma.
As primeiras Congregações Gerais foram dedicadas à gestão corrente da Santa Sé, a definição do funeral de Francisco ou a indicação dos principais celebrantes das cerimónias, mas na semana passada os temas começaram a mudar e os cardeais foram chamados a tomar posições sobre políticas concretas sobre o futuro da Igreja.
Na segunda-feira, decorreram duas congregações e para hoje está agendada a 12.ª reunião deste género, a primeira com os 133 eleitores.
Ao longo dos dias, vários temas têm sido discutidos: migrações, processo sinodal, diálogo inter-religioso, direito canónico, visibilidade mediática da Igreja, abusos sexuais, escândalos económicos e desafios da Igreja Católica, entre outros.
Há também a preocupação de se falar no que se espera do próximo Papa. Num dos encontros, os cardeais pediram um pontífice que "tenha um espírito profético, capaz de conduzir uma Igreja que não se feche em si mesma, mas que seja capaz de sair e levar luz a um mundo marcado pelo desespero".
O caminho de abertura parece não ter retorno, de acordo com os comunicados do Vaticano, com os cardeais a alertarem para o "risco de a Igreja se tornar autorreferencial e perder a sua relevância se não viver no mundo e com o mundo".
Segundo vários vaticanistas, as Congregações Gerais começaram a ganhar destaque tendo em conta a diversidade do colégio cardinalício, com muitos cardeais de vários continentes, que não se conhecem e que têm formação teológica e académica muito diversa.
O Conclave
A eleição no Conclave (do latim ‘cum clavis’ ou fechado à chave) está definida até aos mais ínfimos pormenores na Constituição Apostólica Universi Dominici Gregis, revista por João Paulo II em 1996, atualizada por Bento XVI com o Motu Proprio de 11 de junho de 2007 e posteriormente a 22 de fevereiro de 2013.
A eleição é secreta e, por isso, os cardeais vão ficar fechados na Capela Sistina e longe do mundo. Este sistema iniciou-se no Concílio Lyon II (1274), convocado pelo Papa Gregório X, e hoje os também designados “príncipes da Igreja” estão proibidos de trocar cartas, mensagens ou telefonar a alguém do exterior, assim como de ler jornais, ouvir rádio ou ver televisão enquanto durar a reunião, para evitar pressões.
A obrigação de manter segredo estende-se a todos os funcionários do Vaticano que servem os cardeais neste período ou que têm acesso aos locais em que se encontram. Quem violar as regras será castigado, podendo mesmo ser expulso da Igreja Católica.
O Conclave começa oficialmente com a missa "Pro eligendo Pontifice" (para a eleição do Pontífice), na qual os cardeais pedem apoio espiritual na escolha do novo Papa. A celebração acontece na manhã de 7 de maio, às 09h00, e será presidida por Giovanni Battista Re, de 91 anos, decano do Colégio Cardinalício, na Basílica de São Pedro, em Roma.
Depois, de tarde, às 15h30, os prelados dirigem-se em procissão solene para a Capela Sistina, onde decorre o Conclave, invocando com o cântico “Veni Creator Spiritus” (Vem Espírito Criador) a assistência do Espírito Santo para o momento que se segue.
No local do escrutínio, um por um e numa sequência predeterminada, os cardeais juram com a mão direita sobre a Bíblia manter segredo sobre as discussões relativas à eleição, antes de se sentarem nos lugares que ocuparão durante o Conclave.
Os cardeais terão ainda de ouvir um discurso sobre a escolha que vão fazer e esperar que o eclesiástico que o fez e o Mestre das Celebrações Pontifícias abandonem a sala à ordem deste: “Extra omnes” (Todos fora, os que não participam no escrutínio).
As portas da sala são fechadas, ficando sob a proteção da Guarda Suíça, o exército do Vaticano, e os cardeais podem então a sós dar início à eleição.
Quanto aos votos, será necessária uma maioria qualificada de dois terços para eleger o próximo Papa. Há quatro votações por dia, duas de manhã e duas à tarde.
O voto é escrito num boletim por cada cardeal e é depositado numa pequena urna, um por um. Depois, a contagem é feita pelos cardeais escrutinadores, que foram anteriormente sorteados para essa tarefa.
Os boletins são queimados no fim de cada votação — e é essa queima que origina o conhecido fumo visível na Praça de São Pedro. Em caso de fumo preto, os fiéis sabem que ainda não há Papa. Quando o fumo é branco, chega a boa notícia da eleição de um novo pontífice.
Comentários