O Papa Francisco foi sepultado no sábado, 26 de abril, e o Vaticano continua em Sede Vacante. O sucessor vai ser conhecido assim que os cardeais chegarem a um entendimento, através das votações no conclave, que começa a 7 de maio.

Até lá, o que vai acontecer no Vaticano?

Desde o passado sábado que estão a decorrer novendiali (do latim ‘novem diem’, que significa nove dias), celebrações em sufrágio do Papa Francisco.

A nona e última celebração será realizada a 4 de maio, às 17h00 (16h00 em Lisboa), presidida pelo cardeal francês Dominique Mamberti.

Ao mesmo tempo, continuam as congregações gerais, as reuniões pré-conclave dos cardeais, durante as quais serão discutidas questões formais e logísticas e também o papel e os desafios que aguardam o novo Papa.

Estas reuniões têm particular importância porque servem muitas vezes para os cardeais se conhecerem e perceberem o que defendem — até porque Francisco nomeou muitos nomes de fora de Itália e da Cúria Romana.

Estão também previstos encontros informais dos cardeais, com momentos de oração, como aconteceu quando se reuniram em Santa Maria Maior para rezar junto do túmulo do Papa Francisco.

Como começa o conclave?

A eleição no Conclave (do latim ‘cum clavis’ ou fechado à chave) está definida até aos mais ínfimos pormenores na Constituição Apostólica Universi Dominici Gregis, revista por João Paulo II em 1996, atualizada por Bento XVI com o Motu Proprio de 11 de junho de 2007 e posteriormente a 22 de fevereiro de 2013.

A eleição é secreta e, por isso, os cardeais vão ficar fechados na Capela Sistina e longe do mundo. Este sistema iniciou-se no Concílio Lyon II (1274), convocado pelo Papa Gregório X, e hoje os também designados “príncipes da Igreja” estão proibidos de trocar cartas, mensagens ou telefonar a alguém do exterior, assim como de ler jornais, ouvir rádio ou ver televisão enquanto durar a reunião, para evitar pressões.

A obrigação de manter segredo estende-se a todos os funcionários do Vaticano que servem os cardeais neste período ou que têm acesso aos locais em que se encontram. Quem violar as regras será castigado, podendo mesmo ser expulso da Igreja Católica.

O conclave começa oficialmente com a missa "Pro eligendo Pontifice" (para a eleição do Pontífice), na qual os cardeais pedem apoio espiritual na escolha do novo Papa. A celebração acontece na manhã de 7 de maio e será presidida por Giovanni Battista Re, de 91 anos, decano do Colégio Cardinalício, na Basílica de São Pedro, em Roma.

Depois, de tarde, os prelados dirigem-se em procissão solene para a Capela Sistina, onde decorre a reunião, invocando com o cântico “Veni Creator Spiritus” (Vem Espírito Criador) a assistência do Espírito Santo para o momento que se segue.

Dois dias antes, na Capela Paulina do Palácio Apostólico, terá lugar o juramento dos oficiais e religiosos que irão ajudar nos trabalhos dos cardeais.

“Todos aqueles que serão designados para o próximo Conclave, tanto eclesiásticos como leigos” devem “prestar e subscrever o juramento prescrito”, referem os serviços de imprensa do Vaticano.

Numa extensa lista incluem-se o secretário do Colégio Cardinalício, mestres de cerimónias, o assistente de cada cardeal, religiosos, médicos e enfermeiros, quem trabalha nos elevadores do palácio, pessoal da cantina e dos serviços de limpeza, floristas, seguranças e os responsáveis pelo transporte dos cardeais entre a Capela Sistina e a Casa da Santa Marta, onde vão residir os mais de 130 eleitores.

O que acontece dentro da Capela Sistina?

No local do escrutínio, um por um e numa sequência predeterminada, juram com a mão direita sobre a Bíblia manter segredo sobre as discussões relativas à eleição, antes de se sentarem nos lugares que ocuparão durante o Conclave.

Os cardeais terão ainda de ouvir um discurso sobre a escolha que vão fazer e esperar que o eclesiástico que o fez e o Mestre das Celebrações Pontifícias abandonem a sala à ordem deste: “Extra omnes” (Todos fora, os que não participam no escrutínio).

As portas da sala são fechadas, ficando sob a proteção da Guarda Suíça, o exército do Vaticano, e os cardeais podem então a sós dar início à eleição.

Quanto aos votos, será necessária uma maioria qualificada de dois terços para eleger o próximo Papa. Há quatro votações por dia, duas de manhã e duas à tarde.

O voto é escrito num boletim por cada cardeal e é depositado numa pequena urna, um por um. Depois, a contagem é feita pelos cardeais escrutinadores, que foram anteriormente sorteados para essa tarefa.

Os boletins são queimados no fim de cada votação — e é essa queima que origina o conhecido fumo visível na Praça de São Pedro. Em caso de fumo preto, os fiéis sabem que ainda não há Papa. Quando o fumo é branco, chega a boa notícia da eleição de um novo pontífice.

Na segunda-feira, o Vaticano anunciou o encerramento da Capela Sistina aos fiéis e turistas que estão em Roma, precisamente para poder ser instalada a chaminé que comunica com o exterior. Assim, até ao final do conclave, o local não será visitável.