
“Nas congregações gerais há quase um pré-conclave” para “definir o perfil do futuro Papa”, afirmou Eduardo Baura, que é professor de direito canónico na pontifícia universidade de Santa Cruz, em Roma, que pertence à Opus Dei.
O sacerdote referia-se às reuniões diárias dos cardeais para decidir o funcionamento quotidiano da Santa Sé, que servem muitas vezes para se conhecerem e perceberem até porque Francisco nomeou muitos nomes de fora de Itália e da Cúria Romana.
Vários analistas apontam o discurso do então Jorge Bergoglio sobre a necessidade de modernização da Igreja numa das Congregações Gerais após a renúncia de Bento XVI como a principal razão para a sua escolha pelo colégio cardinalício de então.
“O que está previsto é que estas congregações sirvam para resolver os problemas imediatos que surjam, concretamente para marcar a data do funeral, para marcar a data do início do conclave e outras questões que possam surgir”, mas “também têm de discutir o estado geral da Igreja”, os “problemas da evangelização no mundo contemporâneo e quais são os desafios que têm de ser enfrentados”, explicou Eduardo Baura.
E por isso, “naturalmente, ao falar destas questões, já se está a traçar, de alguma forma, o perfil do novo Papa”, reconheceu o docente.
Os media falam em vários ‘papabili’ e os canonistas referem uma lista de duas dezenas de nomes, com cada meio a destacar alguma virtude que poderá ser decisiva na escolha dos pares, seja por ser mais progressista ou mais conservador, ou por vir de uma zona geográfica que, automaticamente, assegura mais votos.
Mas Eduardo Baura tem uma ambição mais concreta para o sucessor de Francisco. “Não sei quem será nem qual o perfil”, mas, “como cristão, mais do que como professor ou como padre, penso que seja um Papa muito próximo de Jesus Cristo, porque ele tem de atuar como Jesus Cristo na terra”.
“É importante recordar que o Papa é muito importante, porque é o vigário de Cristo, mas não é Cristo nem o messias”, e não basta a eleição de um sucessor para se sentar na cadeira de São Pedro que “todos os problemas sejam imediatamente resolvidos”.
“Por isso, espero que ele seja um Papa adequado”, acrescentou, considerando que não há tradição de rutura entre os vários pontífices.
“A missão da Igreja é evangelizar, isto é, anunciar o evangelho é dar os meios de salvação, os sacramentos”, explicou.
A “igreja vive no mundo e não é alheia aos problemas materiais da humanidade”, particularmente no contexto de guerra que hoje existe. Contudo, “não cabe à Igreja e nem tem a função ou capacidade de os resolver”, salientou Eduardo Baura.
Além disso, “também é muito importante que o novo Papa esteja muito consciente de que é o pai comum da Igreja universal e que, portanto, há uma só fé, um só sacramento, mas há muitas culturas, mentalidades e tradições diferentes e isso tem de ser respeitado”, alertou ainda o professor universitário, recordando que Cristo tinha 12 apóstolos para representar essa diversidade de mentalidades em relação à mesma crença.
Apesar disso, Baura recusou a possibilidade de uma “rutura, porque a Igreja é tradição”.
E a “tradição que conta é a tradição do Evangelho”, e embora “muitas coisas possam mudar no governo, na forma de lidar com as questões do mundo também”, o “que não pode mudar é o núcleo da fé”.
O Papa Francisco morreu na segunda-feira aos 88 anos, de AVC, após 12 anos de pontificado.
Nascido em Buenos Aires, a 17 de dezembro de 1936, Francisco foi o primeiro jesuíta e primeiro latino-americano a chegar à liderança da Igreja Católica.
A sua última aparição pública foi no domingo de Páscoa, no Vaticano, na véspera de morrer. O papa Francisco esteve internado durante 38 dias devido a uma pneumonia bilateral, tendo tido alta em 23 de março.
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