O benefício de 90 mil pipas (550 litros cada) de mosto para produção de vinho do Porto foi o principal resultado do comunicado de vindima aprovado hoje pelo conselho interprofissional do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto (IVDP), que esteve reunido no Peso da Régua, distrito de Vila Real.
“Após a análise das propostas apresentadas pela produção e pelo comércio, foi votada, por maioria, a proposta de 90 mil pipas de mosto a beneficiar durante o ano. Esta proposta resultou de uma tentativa de aproximação que, no final, não coincidiu com as propostas das duas profissões. Houve necessidade de ajuste dos valores iniciais [para] tentar minimizar o prejuízo dos agricultores num ano muito difícil”, afirmou o presidente do IVDP, Gilberto Igrejas.
A quantidade de vinho do Porto que irá resultar da próxima vindima sofre um decréscimo de 14 mil pipas relativamente a 2023, ano que o designado benefício foi fixado nas 104 mil pipas.
Para a negociação, a produção propôs 99 mil pipas de mosto, enquanto o comércio apresentou uma proposta de 81 mil pipas, menos 23 mil face a 2023 e menos 35 mil do que em 2022.
“Aquilo [que se decidiu] hoje foi, de alguma maneira, uma tentativa de aproximação que não coincidiu com os desejos da produção e do comércio. Portanto, foi o valor possível daquilo que foi a melhor aproximação”, reiterou Gilberto Igrejas.
O benefício é a quantidade de mosto que cada viticultor pode destinar à produção de vinho do Porto e é uma importante fonte de receita dos produtores do Douro.
O valor resulta da análise multidisciplinar de vários cenários, como as vendas, os ‘stocks’ das empresas ou a colheita prevista, que, de acordo com a Associação para o Desenvolvimento da Viticultura Duriense (ADVID), estará em linha com a previsão do potencial de colheita de 2023 na próxima vindima, num intervalo estimado entre as 232 mil e as 264 mil pipas.
A juntar a estes fatores, Gilberto Igrejas alertou para a redução do consumo de vinho a nível mundial, o que tem “uma repercussão direta nas exportações”, a par de “uma campanha anti-álcool que se tem centrado no vinho” e que acarreta prejuízos, em particular, para a Região Demarcada do Douro.
Para além do presidente do IVDP, que representa o Estado, o conselho interprofissional é composto pelos dois vice-presidentes e representantes da produção e do comércio distribuídos pelas duas secções especializadas (Porto e Douro).
No final da reunião, o vice-presidente indicado pelo comércio, António Filipe, lamentou o facto de não ter havido um acordo entre as profissões.
“O valor que tínhamos proposto de 85 mil pipas resultou da ponderação do cenário macroeconómico, das tendências do mercado, presentes e futuras, também da quantidade de ‘stocks’ que o comércio tem, mas sobretudo, das intenções de compra dos nossos associados e que apontam para uma redução relevante relativamente ao ano anterior”, explicou.
Ainda assim, o comércio disse aceitar o resultado do conselho interprofissional, assegurando que irá lutar para “encontrar maneiras de tentar ultrapassar esta situação que é manifestamente muito difícil, em particular para os [agricultores] da Região Demarcada do Douro”.
O também vice-presidente Rui Paredes, indicado pela produção, afirmou que o valor do benefício é “duro” e poderá ser insuportável para os produtores durienses, que têm enfrentado uma perda de rendimento progressiva.
“Os viticultores não conseguem suportar a manutenção de um preço desde 2020 [mil euros por pipa]. Há uma perda de centenas de milhões de euros durante os últimos 23 anos e, por isso, a produção decidiu chegar às 90 mil pipas. É aquilo que é possível, sabemos que corremos sempre um risco, porque não há um regulador no mercado”, vincou.
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