O ex-presidente da Comissão Europeia e ex-primeiro-ministro português admitiu que os ‘eurobonds’ sejam rejeitados nesta altura, mas assegurou que haverá “algum tipo de compromisso”, porque “é assim que normalmente a UE toma decisões”.

Durão Barroso, que falava numa videoconferência organizada pela Fundação Gulbenkian, evocou a sua experiência na Comissão durante a crise de 2008 para frisar que “as instituições estão a responder à crise” e de “uma maneira mais rápida” que então.

“Na última crise, o Banco Central Europeu (BCE) levou quatro anos a adotar a chamada ‘whatever it takes policy’ [de compra de dívida], agora, levou quatro semanas” a decidir suspender os limites ao endividamento dos Estados-membros, exemplificou.

Criticou por outro lado a imprecisão de linguagem daqueles que imputam à União falhas em matérias em que não tem competência, como a saúde, ou confundindo a sua ação com a de “alguns governos que não deixam a UE fazer o que pode e deve fazer”.

“Sem utilizarmos termos precisos estamos de facto a aumentar o euroceticismo”, apontou.

Citando, como bons exemplos, as várias decisões já tomadas pelas instituições europeias, Durão Barroso apontou que “falta coordenação do apoio fiscal à economia e falta um acordo sobre a mutualização da dívida”, uma referência à emissão comum de títulos da dívida, ou ‘eurobonds’, agora também chamados ‘coronabonds’.

“Penso que vão ser encontradas soluções, não os ‘eurobonds’, porque alguns países opõem-se fortemente”, afirmou, referindo que, quando na crise de 2008 a questão foi levantada, a chanceler alemã, Angela Merkel, lhe disse “not in my lifetime”.

A questão, sublinhou, está “a polarizar e a dividir” os países da União, “mas vai haver algum tipo de compromisso”, assegurou.

“A UE enfrenta uma crise existencial, não podemos ser complacentes”, acrescentou, destacando que “os riscos vêm principalmente da polarização das opiniões publicas”.

Prevendo “enormes consequências na economia e no tecido social” desta crise na Europa e em todo o mundo, Barroso considerou que a primeira prioridade é chegar a uma solução no campo da saúde e exortou os governos “a não ceder a pressões” motivadas por receios económicos.

“O que é importante, do ponto vista político, é tomar as melhores decisões com base no conhecimento disponível. Investir em testes, no distanciamento social, no confinamento”, defendeu.

“Há pressão para levantar estas medidas, mas […] não devemos mudar a estratégia, devemos mantê-la e depois avaliá-la. Devemos ser persistentes e não ceder a pressões”, afirmou.

Em face das consequências, que prevê enormes, defendeu a necessidade de liderança, para que a crise seja “uma oportunidade de inovação social e de mais imaginação na política”.

José Manuel Durão Barroso encerrou hoje a conferência “Respostas de Saúde, Económicas e Políticas à Pandemia de covid-19″.