De acordo com a imprensa britânica, Boris Johnson teria afirmado, numa reunião no fim de outubro, que preferia ver "corpos empilhados aos milhares" do que impor um novo confinamento devido à pandemia. Contudo, o Daily Mail, que avançou com a notícia, não divulgou as suas fontes — mas era referido que o ex-braço direito do primeiro-ministro, Dominic Cummings, guardou gravações de áudio e um registo escrito das reuniões importantes, antes de deixar Downing Street em novembro de 2020.
De acordo com o The Guardian, fontes conservadoras deram agora peso às afirmações do primeiro-ministro britânico, pelo que a pressão sobre o tema continua em crescente. Por sua vez, a BBC também afirma ter conseguido confirmar que a frase foi efetivamente proferida, mas no meio de uma "discussão acalorada".
Instalada a polémica, o gabinete do primeiro-ministro desmentiu a frase e denunciou uma "nova mentira". Recorde-se, também, que o Reino Unido iniciou um terceiro confinamento em janeiro, ou seja, depois da alegada afirmação.
Mais tarde, durante uma visita oficial, os jornalistas perguntaram diretamente ao líder conservador se ele tinha pronunciado as palavras. "Não, mas acredito que o que as pessoas querem do governo é que assegure que as medidas de confinamento funcionam", frisou.
Dominic Cummings,lançou na passada sexta-feira um violento ataque ao chefe do governo britânico, acusando-o de incompetência e questionando a sua integridade, a propósito de vários casos recentes.
Em texto publicado no seu sítio na internet, este defensor da saída do Reino Unido da União Europeia, artesão da vitória do ‘Leave’ no referendo de 2016, considerou “triste ver o primeiro-ministro e o seu gabinete tão longe do nível de competência e integridade que o país merece”.
Cummings, que foi um assessor muito influente e controverso, saiu do governo em novembro de 2020 em condições muito turbulentas.
Negou ter sido o autor da divulgação de uma SMS que revelou um acesso privilegiado do industrial James Dyson, que fez fortuna nos produtos eletrodomésticos, ao primeiro-ministro.
A BBC revelou recentemente esta troca de mensagens na qual Dyson solicitava a Johnson, no início da pandemia, que “regulasse” o estatuto fiscal dos seus assalariados que deveriam vir ao Reino Unido fabricar os respiradores, como pretendia o governo. Boris Johnson teria respondido em março de 2020: “Vou tratar disso amanhã! Precisamos de vocês”.
Dominic Cummings mencionou também a intenção de Boris Johnson de fazer financiar os trabalhos do seu apartamento por financiadores privados. Acrescentou que recusou ajudar a avançar com a intenção e de lhe ter dito que esta era “contrária à ética, estúpida, talvez ilegal”.
Disponibilizando-se para fornecer aos investigadores as mensagens privadas que provam as suas afirmações e testemunhar sob juramento, Cummings sugeriu o lançamento de um inquérito parlamentar urgente sobre a conduta do governo durante a pandemia do novo coronavirus.
Acusou ainda Johnson de ter tentado acabar com um inquérito interno sobre as fugas de informação relativas a uma decisão do governo de impor um novo confinamento, ocorridas no ano passado depois de uma reunião do Executivo, porque iria colocar em causa um conselheiro próximo da sua noiva Carrie Symonds.
Cummings afirmou que respondeu a Boris Johnson que esta era uma ideia “louca” e “totalmente contrária à ética”. Este episódio “contribuiu para a (sua) decisão de sair de Downing Street”, acrescentou.
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