“É um trabalho feito à pressa e sem rigor na verificação dos dados” sobre os monumentos a classificar, afirmou à agência Lusa Leonor Rocha, arqueóloga e também docente da Universidade de Évora (UÉ).
Contactada pela Lusa, a diretora regional de Cultura do Alentejo, Ana Paula Amendoeira, agradeceu esta contribuição para o processo e assinalou que a consulta pública, em curso, “é o período ideal para se incorporarem contributos que possam ser atendíveis”.
“Pelo seu percurso, grande qualidade de trabalho que tem desenvolvido e as posições públicas de cidadania que tem tomado na defesa do património megalítico, temos todo o gosto e agradecemos muito esses contributos, bem como os de todos os arqueólogos e cidadãos”, referiu.
O procedimento para classificar como conjunto de interesse nacional um total de 2.049 monumentos do Megalitismo Alentejano, como antas e menires, foi aberto na semana passada.
Este processo de classificação foi desencadeado pela Direção Regional de Cultura do Alentejo, em outubro de 2020, devido à destruição de património arqueológico resultante do modelo de agricultura superintensiva.
A arqueóloga Leonor Rocha defendeu hoje que era preciso ter sido feito “um trabalho prévio muito sério” para classificar o megalitismo da região, até porque a base de dados nacional disponível no Portal do Arqueólogo “está cheia de problemas”.
“Muitos dos sítios, quando lá foram inseridos, já estavam dados como destruídos e outros têm problemas de coordenadas que nunca foram verificadas”, apontou.
Segundo a também docente universitária, só do concelho de Mora, distrito de Évora, “cerca de 30 monumentos” que estão “cartografados e preparados para serem classificados já não existem”, sendo que “alguns” desapareceram “há 100 anos”.
Os proprietários dos terrenos onde se localizavam esse monumentos destruídos “vão ter áreas classificadas, com todas as restrições que isso implica, de coisas que não existem”, alertou.
A diretora regional de Cultura discordou sobre a “falta de valor” dos monumentos destruídos, considerando que esses sítios “continuam a ter potencial de valor cultural, histórico arqueológico e patrimonial”, pois, ainda podem revelar “informações importantes”.
Leonor Rocha avisou que constam também da lista sítios arqueológicos que “estão mal cartografados” e “não estão no sítio certo”, como a Anta Capela de Pavia, no concelho de Mora, que “está cartografada 50 metros ao lado”.
Nesses casos, um proprietário que queira “fazer um projeto de um olival ou amendoal”, pode “deixar uma mancha à volta de uma área que não tem nada e o monumento que está ao lado pode ser destruído”, alertou.
Por outro lado, a professora da UÉ afiançou que a lista não apresenta “os sítios que foram intervencionados nos últimos anos”, dando como exemplo o Menir da Caeira, no concelho de Arraiolos, sobre o qual trabalhou e entregou relatório “há dois anos”.
“Isso tem que ser tudo revisto e o Governo, o Ministério da Cultura, a Direção-Geral do Património Cultural (DGPC) e a Direção Regional da Cultura do Alentejo não podem vir dizer que são muito bons e que resolveram rapidamente o problema que existia, porque isso não é verdade”, sublinhou.
Leonor Rocha prometeu pronunciar-se sobre o processo, através da consulta pública, que está em curso, e revelou que já enviou “uma informação para a DGPC” em relação ao concelho de Elvas, tencionando fazer o mesmo quanto aos de Arraiolos, Mora e Monforte.
“Mas eu não consigo ter tempo para, em 15 dias, pegar em três concelhos diferentes e ir verificar, monumento a monumento, os que estão destruídos e mal cartografados”, observou, sustentando que esse trabalho cabe “teoricamente à tutela”.
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