Na Avenida 24 de Julho, onde a EDP tem a sede, com vista para o Tejo, o ambiente era de luta mas também de alegria entre as várias dezenas de trabalhadores das lojas e ‘call centers’ da EDP, contratados através de empresas de trabalho temporário, após cerca de três anos sem se verem, uma vez que alguns deles continuam em teletrabalho.

A concentração foi convocada pela Federação Intersindical das Indústrias Metalúrgicas, Química, Farmacêutica, elétrica, Energia e Minas (Fiequimetal), no mesmo em que estes trabalhadores cumprem uma nova greve, depois da em 09 de fevereiro, que, segundo a informação avançada por responsáveis sindicais, superou os 80% de adesão, com a maioria das lojas de norte a sul do país fechadas.

A ação, inserida na Semana da Igualdade, promovida pela CGTP-IN, contou com a presença da secretária-geral da central sindical, Isabel Camarinha, que salientou que aqueles trabalhadores exigem os mesmos direitos dos trabalhadores dos quadros da EDP.

“Na prática, são trabalhadores da EDP há muitos, muitos anos, alguns há 10, 20 anos, ora isto é completamente inadmissível, porque depois os direitos destes trabalhadores são muito inferiores aos direitos dos trabalhadores das empresas do grupo EDP”, apontou Isabel Camarinha, em declarações aos jornalistas.

A líder sindical lembrou que as alterações ao Código do Trabalho recentemente aprovadas não alteraram as regras relativamente à externalização de serviços, permitindo que se perpetuem situações de precariedade laboral.

“Muitos destes trabalhadores são mulheres, são jovens, que não veem como ter uma vida digna, porque não têm as condições necessárias, e portanto enquadra-se muito bem na Semana da Igualdade a realização desta ação”, referiu a secretária-geral da CGTP-IN, lembrando que está convocada também uma “grande manifestação”, no dia 18 de março, em Lisboa, “pelo aumento dos salários e das pensões, que é uma emergência nacional”.

Já relativamente à nova greve que os maquinistas da CP — Comboios de Portugal cumprem hoje, a secretária-geral da CGTP-IN sublinhou que o que falta para resolver os problemas “é haver resposta e haver solução”.

“Não é com as propostas que a CP tem vindo a apresentar que os trabalhadores vão baixar os braços, tal como os professores e os outros trabalhadores da escola pública também não vão baixar os braços, tal como na saúde também não vão, assim como nas empresas” da indústria e dos serviços, defendeu a responsável.

Para Susana Simões, chefe de uma das lojas da EDP, “existe precariedade” naqueles locais, onde os trabalhadores “dão a cara” pela empresa.

“Nós fazemos todo o trabalho da EDP, reclamações, atender o cliente, vender tudo aquilo que eles nos pedem, [temos] objetivos altos e não temos os ordenados que eles [trabalhadores dos quadros] recebem”, lamentou.

Relativamente aos lucros de 679 milhões de euros reportados pela elétrica, relativos ao ano passado, Susana Simões lamentou que não sejam “divididos com as lojas de norte a sul do país e os ‘contact centers’ que estão a trabalhar todos os dias para a EDP”.

“Somos nós que estamos a dar lucro à EDP e não vemos nenhum desses lucros nos nossos salários”, vincou a trabalhadora.