“A Catalunha é um drama para a Catalunha, para a Europa e para Portugal esperemos que não seja, mas isso não é uma virtude nossa propriamente dita”, afirmou hoje Eduardo Lourenço, sublinhando esperar que “a coisa não vá até ao confronto sério”, apesar de já haver “precedentes”.
Questionado pelo jornalistas, em Óbidos, o ensaísta disse achar “estranho que o atual presidente de Espanha [Mariano Rajoy] não tenha feito um esforço no sentido de oferecer uma outra hipótese mais aceitável para um povo que realmente tem um passado histórico especial, tem uma cultura particular, e que quer ser um povo à parte”.
Eduardo Lourenço disse compreender “a paixão do povo catalão, pensa que tem razões, que se sente humilhado pelo tratamento a partir do governo central”, mas também a posição de Espanha “que não só está na Europa, está no mundo”.
Os catalães, acrescentou, “têm que pensar duas vezes se querem ser uma ilha ou querem pertencer realmente a um espaço maior que é um espaço histórico universal”, acrescentou, considerando que a luta pela independência da Catalunha é “o princípio de uma fragmentação virtual” da União Europeia que espera que não se estenda a outros países.
O parlamento regional da Catalunha aprovou na sexta-feira a independência da região, numa votação sem a presença da oposição, que abandonou a assembleia regional e deixou bandeiras espanholas nos lugares que ocupavam.
Ao mesmo tempo, em Madrid, o Senado espanhol deu autorização ao Governo para aplicar o artigo 155.º da Constituição para restituir a legalidade na região autónoma.
O executivo de Mariano Rajoy, do Partido Popular (direita), apoiado pelo maior partido da oposição, os socialistas do PSOE, anunciou ao fim do dia a dissolução do parlamento regional, a realização de eleições em 21 de dezembro próximo e a destituição de todo o Governo catalão, entre outras medidas.
Em resposta o presidente do governo regional destituído, Carles Puigdemont, disse não aceitar o seu afastamento e pediu aos catalães para fazerem uma “oposição democrática”, numa declaração oficial gravada previamente e transmitida em direto pelas televisões.
Eduardo Lourenço falava em Óbidos, à margem de uma mesa de autores no Festival Literário Internacional, onde hoje conversou com Guilherme d’Oliveira Martins sobre as principais revoluções que marcaram o último século.
Sob o tema “Revoluções Revoltas e Rebeldias” o Folio fecha hoje portas em Óbidos, depois de 29 mesas de autores, dez exposições, 15 conversas e um seminário internacional.
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