Um célebre comentário que corria de boca em boca pelo país fora dizia que o Elefante Branco era o local a que “ninguém ia mas estava sempre cheio”, em contraposição com uma casa erudita de espetáculos à qual “toda a gente ia” mas estava, invariavelmente “vazia”.
Passando o exagero da frase, facto é que a mítica casa noturna então sita na Rua Luciano Cordeiro, em Lisboa, ganhou nome e fama em Portugal e por esse mundo fora.
Aberto em 1978 no mesmo espaço onde antes era um minimercado, mudou de mãos ao longo dos anos e fechou portas por duas vezes. A primeira, em 1985, por morte de um dos proprietários, e a segunda, em finais de 2016, um encerramento que mereceu honras de noticia do jornal “Sol”. A causa? Uma ação de despejo que um antigo sócio e proprietário do espaço avançou contra os então responsáveis da empresa Elefante Branco, Sociedade de Turismo e Exploração de Bares, Lda.
A marca “Elefante Branco”, registada no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), esteve à venda pelo valor base de cinco mil euros, desconhecendo-se o que daí resultou após o anúncio publicado pela administradora de insolvência, Graça Dias.
Pouco mais de dois anos depois, este ícone da noite da capital portuguesa reabre portas. Hoje só para uns com uma festa com pompa e circunstância, destinada a uma seleta lista de convidados; amanhã para todos os que o queiram frequentar.
Muda de rua, desce da Luciano Cordeiro, nº83, para a Rua Conde Redondo, nº74, pouco mais de 300 metros de distância, mantendo-se no mesmo bairro e debaixo da mesma Junta de Freguesia (Santo António).
Garrafas, sapatos para todos os pés e o golo de Vata
Nos tempos áureos, diz-se, era frequentado por empresários, políticos, advogados, atores, dirigentes desportivos e jornalistas. Mas muitas e outras variadas profissões contavam na lista dos habitués do “Trombinhas”, como era carinhosamente apelidado, preferindo os costumeiros destas andanças utilizar essa nomenclatura em substituição da expressão idiomática que é utilizada na política, por exemplo, para se referir a um obra pública com um elevado investimento e que é desproporcional à sua utilidade ou valor.
Ter garrafa era um sinal de distinção. Os carros, durante anos, faziam segunda fila à porta. Os porteiros eram figuras respeitadas por todos e a quem os novatos tinham que começar por conquistar. E para lá da porta só entrava quem se apresentasse bem calçado, sendo que para os mais distraídos era facultado um self service numa sapataria improvisada num armário encrustado na parede. Bem visível estava igualmente um aviso de consumo mínimo: 100 euros.
Secretismo é a palavra-chave do Elefante Branco, um local que sempre pugnou pela discrição. Em especial com os media.
O que se passava no “Elefante” ficava no “Elefante”, uma máxima importada da expressão “O que se passa em Las Vegas, fica em Las Vegas”. Quase tudo ficava ou morria dentro de quatro paredes de um local que se dividia entre uma sala de refeições — onde se servia somente dois pratos: bife à Elefante Branco e bacalhau à Brás – caracterizada pelos espelhos que decoravam as paredes espelhadas, as mesas espelhadas, sofás em tons de vermelhos, e uma pista de dança iluminada por uma bola de espelhos, dois espaços que completavam dezenas de metros quadrados com uma configuração ao estilo de anfiteatro debaixo de uma luz que deixava perscrutar quanto baste por quem lá andava a conversar ou degustar um jantar ou uma ceia.
No entanto, por vezes, algo trespassava cá para fora. Soube-se, por exemplo, através de uma inconfidência partilhada por António Boronha, antigo presidente do clube de futebol algarvio Sporting Clube de Farense, num blog por si criado, um episódio decorrido na noite de 18 de abril de 1990 em que o árbitro do jogo entre o Benfica e o Marselha, da meia-final da Taça dos Campeões Europeus, o belga Marcel Langenhove, foi visto com outros dois ex-árbitros (César Correia e Alder Dante) e dois funcionários do clube da Luz, nessa noite, no “Elefante”, horas depois das águias treinadas por Sven-Goran Erickson terem vencido o clube então presidido por Bernard Tapie com um golo de Vata (83’), na célebre mão do avançado angolano, que colocou o Benfica na final da Taça dos Campeões Europeus.
A história não se apaga e o tempo não para. Se o site está em construção, lendo-se somente Lisbon Night Club brevemente online, na Internet encontramos igualmente respostas para quase tudo.
Hoje é a festa da inauguração com uma certeza e uma promessa. "Elegância, requinte, conforto e qualidade são características pelas quais o Elefante Branco sempre foi conhecido” sendo que “prepara-se para abrir um novo capítulo na história da noite de Lisboa”, lê-se numa página do Google.
Com uma “nova decoração, novas salas e garagem privada. A partir das 21h, de segundas a sábados, pode jantar ao som de boa música e night shows”, terá “nova morada, mas mantendo todas as características pelo qual era conhecido. O Bife à Elefante Branco está na carta e está melhor do que nunca”, garantiu o proprietário numa página do Google, a um comentário ali escrito.
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