No dia 15 de fevereiro, Pedro Sánchez, líder do Executivo espanhol, anunciou eleições para este domingo, 28 de abril, depois de o parlamento ter chumbado o seu projeto de Orçamento para 2019.

À data a proposta de Orçamento Geral do Estado espanhol para 2019 foi rejeitada no Congresso dos Deputados (câmara baixa do parlamento) com os votos da ERC (Esquerda Republicana de Catalunha) e do PDeCAT (Partido Democrático Europeu da Catalunha), que se juntaram ao PP (Partido Popular, direita), Cidadãos (direita liberal), Foro Asturias (regionalista) e Coligação Canárias (regionalista). Tratou-se da segunda vez na democracia espanhola que o parlamento chumbou o Orçamento, depois de em 1995 ter também recusado as contas de 1996 propostas pelo Governo, também socialista, de Felipe González, o que na altura levou igualmente à marcação de eleições antecipadas.

Assim, este domingo, os espanhóis vão eleger as Cortes-Gerais, 350 membros do Congresso dos Deputados (parlamento, câmara baixa) e 266 do Senado (câmara alta). Os deputados do Congresso dos Deputados são eleitos pelo método de Hondt aplicado em 52 circunscrições eleitorais: 50 províncias espanholas e duas cidades autónomas (Ceuta e Melila).

A crise catalã e o avanço da extrema-direita estão entre os principais temas em torno destas eleições, mas não são os únicos.

Risco de instabilidade política crónica 

Esta será a terceira vez em menos de quatro anos que os espanhóis comparecerão às urnas e o risco de uma paralisação política permanece elevado.

Embora as sondagens apontem para a vitória do presidente do governo, Pedro Sánchez, o Partido Socialista (PSOE) não terá maioria para governar sozinho.

Para continuar no governo, Sánchez poderá ter de procurar uma aliança com a esquerda radical do Podemos, atualmente em baixa, e com os partidos regionais, como os separatistas catalães e os nacionalistas bascos.

Outra opção seria uma aliança com o Cidadãos, um partido de centro-direita liberal que oficialmente afirma que o seu desejo é "afastar Sánchez" e governar com os conservadores do Partido Popular (PP). Sánchez não descarta porém a possibilidade, assim como outros países, sobretudo depois de o PSOE e Cidadãos terem alcançado acordos nos últimos anos.

As sondagens, no entanto, consideram improvável que Cidadãos, PP e o partido de extrema-direita Vox alcancem uma maioria de governo.

A instabilidade começou nas eleições de dezembro de 2015, que marcaram o fim do bipartidarismo, com a entrada em cena do Podemos e do Cidadãos, e que levaram ao bloqueio político.

Em junho de 2016 foram organizadas novas eleições e o conservador Mariano Rajoy tomou posse em outubro.

Um presidente de governo não eleito

Depois de perder as eleições em 2016, quando os socialistas conquistaram apenas 84 assentos em 350 no Parlamento, Pedro Sánchez chegou ao poder em junho do ano passado após uma moção de censura apoiada pelo Podemos, os separatistas catalães e os nacionalistas bascos contra Mariano Rajoy.

Rajoy foi o primeiro chefe do executivo espanhol derrubado por uma moção de censura. Tratou-se da quarta moção de censura da democracia espanhola e a segunda de Mariano Rajoy —  Suárez (1980), González (1987), Rajoy (2017), apresentada pelo Podemos, e Rajoy (2018).

A queda do executivo de Mariano Rajoy foi provocada depois de vários ex-membros do PP terem sido condenados a penas de prisão por terem participado num esquema de corrupção, que ficou conhecido como caso "Gürtel", que também beneficiou o partido.

Assim, o PP também foi condenado ao pagamento de uma multa por ter beneficiado do esquema fraudulento. Rajoy nunca foi envolvido diretamente no caso Gurtel, mas os seus cargos de responsabilidade no PP levaram os opositores a acusá-lo de ter "fechado os olhos" ao esquema.

Avanço da extrema-direita

Vox, a grande novidade das eleições. Sem presença substancial da extrema-direita desde a morte do ditador Francisco Franco, em 1975, Espanha pode registar o grande avanço do Vox, um partido com discurso ultranacionalista, que tem entre os seus candidatos generais da reserva defensores do franquismo.

Praticamente inexistente nas sondagens há 12 meses, o partido sacudiu o tabuleiro político espanhol em dezembro ao conquistar 11% dos votos nas eleições regionais na Andaluzia, o que ajudou o PP e o Cidadãos a desalojar do poder os socialistas no seu reduto histórico.

Catalunha

Um ano e meio depois da tentativa de secessão da Catalunha em outubro de 2017 - a pior crise política na Espanha em 40 anos - o tema continua no centro do debate.

Alguns dias depois do início de um julgamento histórico contra ex-dirigentes, os separatistas catalães forçaram Pedro Sánchez, em fevereiro, a convocar eleições antecipadas, negando apoio ao seu orçamento.

O socialista, que prefere não ter que voltar a recorrer aos independentistas para formar uma eventual maioria, repetiu recentemente que é contra qualquer referendo de autodeterminação na Catalunha, embora tenha oferecido mais autonomia.

A direita e a extrema-direita, que acusam Sánchez de "traição" pela sua tentativa de diálogo com os separatistas, usaram o termo "golpistas" contra os catalães durante a campanha.

Economia e desemprego

Depois de uma severa recessão, Espanha registou uma recuperação com três anos de crescimento acima de 3%, entre 2015 e 2017.

A economia, no entanto, desacelerou em 2018, com um avanço de 2,6%, e uma previsão para 2019 de 2,2%.

O desemprego, com índice de 14,7% no primeiro trimestre do ano, o segundo maior da Europa, atrás apenas da Grécia, continua a ser a maior preocupação dos espanhóis.