“Confirmo o pedido de renúncia, devido a quebra de confiança política, provocada por minha decisão na Assembleia Municipal”, disse hoje à agência Lusa Pedro Grave, 48 anos, e membro da estrutura dirigente do BE no concelho de Abrantes e na coordenadora distrital de Santarém.

Pedro Grave lamentou aquela que diz ser uma situação que visava “o reforço de participação democrática plural” e que resultou num problema que assumiu ser de sua “inteira e única responsabilidade”.

Na base da saída de Pedro Grave do órgão para o qual foi eleito nas autárquicas de 26 de setembro está a decisão de ter aceitado integrar uma lista com dois partidos de direita, o Partido Social Democrata e o Chega, a par dos independentes do ALTERNATIVAcom, para a Assembleia Intermunicipal do Médio Tejo, o que foi criticado, primeiro, pela concelhia do BE, e logo depois pela distrital bloquista, a par de outros partidos.

Em comunicado, a Coordenadora Concelhia do Bloco de Esquerda de Abrantes, liderada por Armindo Silveira, afirmou que “condena e distancia-se” da decisão tomada por Pedro Grave, da qual “tomou conhecimento pela comunicação social”, tendo acrescentado que o deputado municipal, confrontado pela concelhia do BE, “assumiu a sua responsabilidade exclusiva por esta decisão e comunicou que renunciará ao mandato”.

Já a Comissão Coordenadora Distrital (CCD) do BE de Santarém, em comunicado, afirmou que “não foi consultada nem se revê em qualquer acordo formal ou informal com partidos de direita, distanciando-se da decisão de integração de listas, ou ações que apoiem ou promovam políticas de direita em qualquer contexto”.

Em declarações à Lusa, Pedro Grave disse hoje que esteve “ocupado com a preparação da sessão”, que decorreu no dia 10 de dezembro, e não deu mais importância ao assunto [da lista conjunta], tendo reconhecido não ter dialogado com a concelhia sobre o assunto.

“Não promovi o envolvimento e a discussão do mesmo pela Coordenadora Concelhia de Abrantes do Bloco de Esquerda, ferindo assim os princípios de confiança em mim depositados, pelo partido e pelos votantes”, disse o eleito bloquista, assegurando ter agido com o “superior interesse de todos em mente, nunca por qualquer interesse pessoal”, e reconhecendo que “tanto as ações como a inércia acabaram por causar danos” a quem se propôs representar.

“Apesar da minha justificação, e acrescendo a razões pessoais muito fortes, considero estarem feridos os princípios de confiança política estabelecidos e já comuniquei aos meus pares a decisão de renunciar ao cargo que ocupo na Assembleia Municipal de Abrantes”, disse Grave.

Também a CDU de Abrantes, que “declinou o convite” para integrar aquela “lista conjunta em oposição à maioria PS”, deu conta de “não se rever nesta situação e entender que as populações nada teriam a ganhar com tal acordo para um lugar de segundo suplente”.

Com 30 anos de intervenção política, Pedro Grave fez notar que a iniciativa “foi uma ação democrática de oposição, prevendo, como aconteceu, uma previsível lista do PS só constituída por elementos da sua bancada”, tendo lembrado que a lista que integrou elegeu dois representantes, um do PSD e um da ALTERNATIVAcom, junto com dois da lista do PS, e que a mesma “é muito mais representativa da Assembleia e dos eleitores do que a lista uni-partidária apresentada pelo PS”.

Grave afirmou ter sido num “sentido do aumento da democracia e representação” que acedeu a integrar a lista e votar favoravelmente, “ao contrário do que implica um comunicado oficial da CDU”, que acusa o dirigente bloquista de coligação e compromisso com partidos de direita.

“Não me coliguei com outros partidos, nem assinei nenhum compromisso, nem acedi a participar por um lugar de suplente, mas validei dois lugares de oposição ao poder absoluto do PS em Abrantes e na CIM Médio Tejo. Esta é que é a verdade e a minha justificação para participar na lista”, concluiu.