As assembleias de voto abriram às 09:00 (08:00 em Lisboa) e, nalguns casos, as centenas de pessoas à espera de votar, protegidas com máscaras e muito atentas à distância de segurança, esperavam de forma ordeira pela sua vez.

“Trabalho num café aqui ao lado e vou chegar ao trabalho mais tarde do que pensava”, disse à Lusa Juan Carlos, visivelmente nervoso, a olhar para o relógio, e surpreendido pelo número de pessoas que já estavam à espera quando chegou.

Os trabalhadores podem usar quatro horas do seu dia laboral para irem votar, mas muitos com vínculos precários preferem não utilizar este direito que têm.

As eleições na Comunidade de Madrid estão a ser seguidas com atenção, visto ser a região mais rica de Espanha, que tudo indica irá manter uma maioria de partidos de direita no poder e que pode indicar uma tendência a nível nacional num país governado por uma coligação minoritária de países de esquerda.

“Nunca vi nada assim. Não estava à espera que viesse tanta gente. Espero que seja um bom sinal para a esquerda”, disse Mónica, a delegada do Unidas Podemos na assembleia de voto no Colégio Tirso de Molina do bairro madrileno de Arganzuela.

Aos eleitores foi pedido nos últimos dias para levarem o voto já preenchido de casa para que seja mais rápido todo o processo de votação.

Em Espanha, o boletim de voto introduzido na urna tem apenas o nome do candidato escolhido e a maior parte dos eleitores recebe nos dias anteriores publicidade de cada uma das listas com o boletim respetivo.

Mesmo assim, nas assembleias de voto há mais boletins para quem não o trouxe de casa sendo ainda distribuídas máscaras contra a covid-19.

Os eleitores, a maior parte deles com duas máscaras colocadas, colocam o seu documento de identificação numa bandeja para que haja o mínimo de contactos possível.

“Todas as regras de limpeza estão a ser cumpridas, porque a pandemia ainda anda por aí e todos os cuidados são poucos”, disse Elena, ao mesmo tempo que explicava que a sua tarefa era desinfetar cada uma das urnas da assembleia pelo menos uma vez todos os 10 minutos.

A maior parte dos candidatos principais teve de esperar longos minutos nas respetivas assembleias de voto à espera da sua vez.

A normalidade da votação foi apenas quebrada a meio da manhã pelo protesto de quatro ativistas femininas na mesa de voto da candidata do partido de extrema-direita Vox.

As ativistas começaram, de tronco nu, a gritar “é fascismo, não é patriotismo!” e “ao fascismo, nem voto nem consentimento!”, tendo a polícia intervindo para as afastar da assembleia.

Os eleitores mais velhos foram aconselhados a votar a partir das 10:00 e até às 12:00, mas durante todo o dia os maiores de 65 anos podiam passar á frente e votar sem esperar na fila.

Ao fim do dia, mesmo antes do fecho das urnas, na faixa horária das 19:00 às 20:00, devem votar as pessoas com covid-19 ou que se desconfie que possam estar infetadas.

Mais de cinco milhões de pessoas são chamadas às urnas na Comunidade de Madrid para eleger os 136 deputados que irão compor a Assembleia Regional para os próximos dois anos.

O voto por correspondência aumentou 41% em relação às eleições anteriores, o que é explicado pela situação de pandemia.

A Comunidade de Madrid é uma das regiões espanholas mais atingida pela covid-19, com uma incidência acumulada de 384 casos por 100.000 habitantes nos últimos 14 dias, – o limiar de perigo é de 250 casos – e a pressão sobre o sistema hospitalar permanece elevada.

A candidata de direita Isabel Díaz Ayuso, do Partido Popular (PP), deverá ganhar as eleições, depois de ter consolidado a sua imagem como adversária inflexível do Governo nacional de esquerda, dirigido por Pedro Sánchez.

As sondagens divulgadas nos últimos dias indicam que a sua lista poderá ter o apoio de 40% dos votos, contra pouco mais de 22% que obteve há dois anos, e duplicar assim o número de lugares que o PP tem na assembleia regional da comunidade mais rica de Espanha.

Sem maioria absoluta, Diaz Ayuso poderá necessitar do apoio do partido de extrema-direita Vox para se manter na presidência da Comunidade de Madrid, o que foi muito criticado por todos os partidos de esquerda durante a campanha eleitoral.

Apesar de, nas eleições de maio 2019, o Partido Socialista (PSOE) ter sido o mais votado, Díaz Ayuso – na altura desconhecida a nível nacional – tornou-se presidente da região de Madrid, à frente de uma coligação que formou com o Cidadãos (direita-liberal) com o apoio parlamentar do Vox.

O bloco de partidos de esquerda (PSOE, Mais Madrid e Unidas Podemos) ainda tem a esperança de ultrapassar o bloco de direita, apesar das indicações de voto dadas pelas sondagens.

O Cidadãos, que nas eleições anteriores conseguiu quase 20% de votos (terceiro lugar), vê agora os seus apoiantes transferirem-se quase na totalidade para o PP e tenta desesperadamente chegar aos 5% da votação, limite abaixo do qual um partido fica sem representantes na assembleia regional.