“Quando os moliceiros se movimentam na água, temos uma cidade com vida e com alma – Aquilo que não existe agora, por causa da pandemia de covid-19″, desabafa Virgílio Porto, da empresa Viva a Ria, que se encontra em lay-off desde novembro de 2020.
A atividade marítimo-turística encontra-se suspensa desde janeiro, devido ao confinamento imposto pelo Governo, mas antes disso algumas das empresas marítimo-turísticas que operam na Ria de Aveiro já se encontravam paradas, por causa da falta de passageiros.
“Não havia gente e, portanto, os custos eram incomportáveis”, afirmou Virgílio Porto, lembrando que um dos maiores custos das empresas marítimo-turísticas é o valor da própria concessão, com licenças que atingem centenas de milhares de euros.
No ano passado, a Câmara de Aveiro devolveu aos operadores um terço do valor pago pela licença, correspondente a quatro meses de atividade e, este ano, já anunciou uma redução de metade do valor da concessão, com o pagamento do remanescente em três prestações (5% em janeiro, 25% em junho e 70% em outubro).
O também presidente da associação Laguna de Aveiro, que reúne vários operadores marítimo-turísticos, espera ansioso pela reabertura das fronteiras e pelo regresso dos turistas, admitindo retomar a atividade em maio, na última fase do plano de desconfinamento anunciado pelo Governo.
Joaquim Varela, da empresa Aveiro Moments, lamenta que as embarcações estejam paradas na Páscoa, porque é “o segundo pico de trabalho” desta atividade, mas diz que é “um pequeno contributo” que podem estar a dar para ter “um arranque em força”.
“Para estarmos a arrancar agora e depois voltar a parar, como aconteceu no Natal, mais vale aguardar e aproveitar este interregno para formar melhor as equipas e fazer algumas manutenções mais profundas às embarcações”, contou o empresário.
No ano passado, os operadores marítimo-turísticos também estiveram parados mais de dois meses, durante o primeiro confinamento, tendo retomado a atividade em junho.
No entanto, Joaquim Varela lembra que até ao final do ano os barcos estiveram a trabalhar com a lotação reduzida a metade e mais tarde passaram a dois terços da sua capacidade, adiantando que os prejuízos são “avultados”.
“É um prejuízo que vamos tentar ver se conseguimos recuperar. Isto não é um sprint. Vai ser se calhar uma maratona e contamos com as pessoas que nos vêm visitar”, afirmou.
Os operadores marítimo-turísticos esperam que a eletrificação das embarcações tradicionais que navegam nos canais urbanos ajude a relançar esta atividade.
A partir deste ano e no prazo de dois anos, os motores de combustão deverão desaparecer e dar lugar a moliceiros elétricos, no âmbito de um projeto desenvolvido em conjunto com a Câmara Municipal de Aveiro.
“A Câmara vai colocar dez torres de carregamento. Está previsto para maio, junho termos essas torres de carregamento à nossa disposição e vamos conseguir iniciar a eletrificação dos motores das embarcações”, disse Joaquim Varela.
O empresário acredita que esta inovação vai ser “um fator de diferenciação”, chamando a atenção das pessoas para visitar a cidade e ajudar as empresas marítimo-turísticas a recuperar dos efeitos da pandemia, passadas as restrições à atividade.
“Vai ser uma grande janela de abertura que vamos ter para diferenciarmo-nos perante todas as cidades do mundo inteiro. Ao conseguirmos essa migração, vamos ser a primeira cidade a nível mundial que vai ter as embarcações todas movidas a eletricidade”, afirmou Joaquim Varela.
O empresário realça que os passeios de barco moliceiro nos canais urbanos da Ria de Aveiro são uma das principais atrações turísticas da cidade, desempenhando um papel de “âncora” na atividade turística na cidade.
“É uma pequena fábrica que dá emprego a cerca de 120 pessoas. Mas a ria não é só os canais urbanos. Os restaurantes, o alojamento e as lojas de ‘souvenirs’ também têm a ganhar quando levantarmos as âncoras dos nossos barcos”, disse.
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