Em entrevista à agência Lusa, em Bruxelas, na véspera do arranque de um Conselho Europeu no qual os 27 vão tentar chegar a um acordo sobre o Fundo de Recuperação e o orçamento da União para os próximos sete anos, Elisa Ferreira disse que as suas expectativas “e as expectativas também da Comissão, são que de facto se terminem as negociações, pelo menos naquilo que é essencial, agora”.

“Quando digo agora, não quer dizer que seja sexta-feira, sábado. Interessa que fique fechado antes do verão, antes de agosto”, precisou, salientando que aquilo que está também em causa é “toda uma gestão de expectativas, quer da parte das empresas, dos empresários, dos trabalhadores, dos investidores, e também até dos próprios mercados financeiros, que passa muito por uma clarificação do que é que a Europa pode fazer”.

Referindo-se às propostas de um Fundo de Resolução de 750 mil milhões e de um orçamento para os próximos sete anos de 1,1 biliões de euros colocadas sobre a mesa pelo executivo comunitário, Elisa Ferreira defendeu que “a Comissão tomou uma iniciativa muito forte e era muito importante que ela tivesse uma resposta positiva rapidamente, pelo menos nas suas linhas gerais, de modo a reforçar a confiança dos investidores, do mercado, dos trabalhadores, enfim, de toda a economia”.

Para a comissária responsável pela Coesão e Reformas, face à “dimensão da crise que se antecipa, com a quebra do produto [interno bruto], a queda de procura”, bem como uma quantidade grande de empresas que estão numa situação financeira complicada, a Comissão “fez tudo o que podia fazer com o dinheiro que tinha”, no último ano de um quadro orçamental, ao reprogramar fundos estruturais que permitiram apoiar PME e trabalhadores em ‘lay-off’, por exemplo.

“A Comissão e o pelouro pelo qual eu me responsabilizo, a Coesão, tomou uma decisão que foi histórica, que foi única, e que teve uma enorme cumplicidade positiva da parte do Parlamento Europeu e da parte do Conselho. Dissemos: «tudo pode ser reprogramado para atacar os problemas que neste momento os países estão a sofrer»”, declarou.

Contudo, a comissária da Coesão admite que esta resposta de emergência “não é uma solução” definitiva. “Com a queda do PIB que já era antecipada [na UE], da ordem dos 7,3%, mas que agora subiu mais um ponto percentual, com o desemprego, que pode não se notar nas estatísticas porque está latente, está disfarçado através de ‘lay-offs’ e mecanismos semelhantes, nós precisávamos na Europa de um impulso”, na forma do plano de recuperação proposto pela Comissão.

“E este impulso permite de facto a alguns países duplicar ou triplicar os fundos estruturais e abrir outras possibilidades de investimento, como seja por exemplo fazer reformas estruturais, reformas de fundo”, acrescentou.
Apontando que evita pensar no cenário de uma falta de entendimento a 27 e prefere pensar neste momento “que vai haver um acordo” e “que todos são sensíveis à necessidade deste acordo”, Elisa Ferreira advertiu todavia que nenhum Estado-membro, nem os mais fortes, vai conseguir superar a atual crise provocada pela pandemia da covid-19.

“É evidente que mesmo para os países mais fortes, como a Alemanha, para as empresas mais fortes, é muito difícil pensarmos que pode haver um relançamento quando o mercado interno europeu, que é aquele que neste momento é para a maior parte das empresas um mercado fundamental, o mercado principal, fica com mais de metade da sua força em recessão”, realçou.

Notando que, “na crise passada”, iniciada em 2008, os problemas alastraram-se a toda a UE “mas começaram com países que pesavam 2% ou 3% do PIB” europeu, como Grécia e Portugal, Elisa Ferreira sublinhou que, “neste momento, as previsões de recessão em Itália, Espanha, parte de França, etc, são na ordem dos dois dígitos”.

“Isto é uma rutura enorme na dinâmica de crescimento do mercado interno”, que só pode ser contrariada com um verdadeiro plano de relançamento da economia europeia, que deve então ser acordado o quanto antes, adiantou.