Marcelo Rebelo de Sousa falava na Feira do Livro de Lisboa, durante a apresentação da obra "Mário Soares", com fotografias de Alfredo Cunha e textos de Adelino Gomes, António Costa e José Manuel dos Santos, lançada pela Porto Editora, e para o qual contribuiu também com um texto.
Referindo-se às cerimónias fúnebres de Mário Soares, realizadas em janeiro deste ano, o Presidente da República disse que as pessoas se mobilizaram espontaneamente "para estarem singularmente presentes", numa homenagem "impressionante".
"De facto, estavam ali a perceber o momento histórico que estavam a viver. Eu nem sei como é que hei de dizer isto de uma forma diplomática sendo Presidente da República, mas tive a noção de que era irrepetível aquele momento", considerou.
O Presidente da República ressalvou que os seus antecessores foram "todos eles notáveis, por várias razões", mas reiterou que teve na altura a convicção de que a despedida de Mário Soares foi "um momento que não se iria repetir".
"Por muito que se quisesse, e que se queira - e espero que não ocorra durante o meu mandato, mas nos mandatos de Presidentes seguintes pode isso acontecer -, por muito que façam por que seja idêntico o momento, o momento era irrepetível", reforçou.
Antes, Marcelo Rebelo de Sousa afirmou que, no Palácio de Belém, "a propósito e a despropósito, surge sempre a personalidade marcante de Mário Soares - sem desprimor para os outros antecessores, porque foram todos bons Presidentes da República".
"Não é apenas nas paredes, não é apenas nas pessoas que lá estão do tempo de Mário Soares, mas é nos documentos, nos dossiês, nos temas tratados", referiu.
Segundo o Presidente da República, a presença do antigo chefe de Estado na história da democracia é inigualável: "Mário Soares foi um fundador da democracia. Outros continuaram, outros contribuíram para a fundação, à sua maneira, mas não na perspetiva civilista que foi a de Mário Soares. E isso fica nas instituições, fica nos lugares, fica na memória das pessoas".
Mário Soares combateu a ditadura do Estado Novo, foi fundador e primeiro líder do PS. Regressado do exílio em França, após o 25 de Abril de 1974, foi ministro dos Negócios Estrangeiros, primeiro-ministro e Presidente da República durante dois mandatos, entre 1986 e 1996.
"Vários outros tiveram fatias deste percurso, mas nenhum teve todas as fatias que teve Mário Soares, esteve presente em todas elas", realçou Marcelo Rebelo de Sousa.
O Presidente da República elogiou também Alfredo Cunha, considerando que Mário Soares "teve a sorte de ter aqui um fotógrafo que o acompanhou e que o radiografou durante anos, na sua riqueza de caráter, de personalidade, de temperamento, de relacionamento com os outros".
"É um grande fotógrafo em termos de retrato daquilo que são as pessoas por dentro", declarou.
[Notícia atualizada às 22:38]
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