O bairro Sanità, a norte do centro histórico de Nápoles, sofreu uma transformação miraculosa graças a La Paranza, uma cooperativa de jovens amigos que começaram a realizar visitas guiadas às melhores catacumbas de Itália no início dos anos 2000, conta o The Guardian. Na altura, o único acesso às catacumbas era concedido pela Igreja Católica para estudos académicos.
Enzo Porzio, de 36 anos, é um dos fundadores de La Paranza e explica que, em 2019, as visitas guiadas às catacumbas atraíam 160.000 visitantes por ano. Mas a história do grupo pede que se recue mais no tempo.
Enquanto adolescente com fracas perspetivas de emprego, Enzo e os seus amigos do bairro Sanità foram reanimados pela chegada de um padre progressista, Antonio Loffredo. "Éramos jovens quando o padre Loffredo nos permitiu iniciar as visitas às catacumbas", explica. "Nessa altura, perguntávamo-nos o que poderíamos fazer como adultos: deveríamos deixar Nápoles para trabalhar ou fazer algo para ajudar a nossa comunidade? Havia muito preconceito contra Sanità", confidencia.
Após vários anos passados como voluntários, a ganhar dinheiro apenas com gorjetas, estabeleceram La Paranza em 2006 para lançar formalmente excursões pagas.
"Com a chegada dos turistas, o projeto começou a mudar o bairro. A influência da Camorra enfraqueceu. Criámos um novo ambiente para as artes, o teatro, a cultura e a arqueologia florescerem. A partir de um bairro sem esperança, a população local viu novas oportunidades", aponta.
Atualmente, a cooperativa emprega 40 guias e as visitas guiadas têm a duração de uma hora, com um custo de cerca de 9€ por pessoa. A visita passa pelas catacumbas de São Januário, o mártir padroeiro da cidade — e cujo sangue armazenado numa ampola se diz que, três vezes por ano, deve passar do estado sólido ao estado líquido para se concretizar o chamado "milagre" que traz bom presságio à cidade.
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