A jazida paleontológica, na serra de Aire, foi identificada por João Carvalho, da Sociedade Torrejana de Espeleologia e Arqueologia, e os trilhos de pegadas de dinossauros localizam-se na antiga Pedreira do Manuel Fernandes, rebatizada Pedreira do Espanhol.

Os novos trilhos encontram-se dispersos numa área com cerca de 10.800 metros quadrados, num estrato calcário datado do Jurássico Médio.

O achado hoje divulgado dista, em linha reta, meia dúzia de quilómetros da Pedreira do Galinha, onde, em 4 de julho de 1994, também João Carvalho descobriu o maior trilho de pegadas de dinossauros saurópodes do mundo, com 175 milhões de anos, hoje Monumento Natural das Pegadas de Dinossauros de Ourém – Torres Novas.

A Pedreira do Espanhol encontra-se em fase de limpeza, para reconhecimento do número total de trilhos e pegadas, mas foram já reconhecidas pegadas de saurópodes, de vários tamanhos.

João Carvalho, que aguardou pela salvaguarda e proteção das pegadas da Pedreira do Galinha para divulgar esta descoberta, explicou à agência Lusa que a decisão de tornar pública esta descoberta prendeu-se com a inclusão daquele monumento e da Jazida com Pegadas de Dinossauros de Vale de Meios (Santarém) na lista dos 200 geossítios mais relevantes a nível global. Ambas estão situadas no Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros.

Admitindo que este foi um segredo bem guardado, João Carvalho afirmou que a Pedreira do Espanhol estava preservada, pois encontra-se desativada.

“Eu sempre disse, inclusive ao Parque, que quando precisassem um dia, depois eu dava a conhecer outras pegadas”, declarou, assumindo que como a Pedreira do Galinha já está preservada, esta era “a altura certa para incluir estas no geomonumento”.

A necessidade de divulgação da descoberta prendeu-se também com a existência de atividades de todo-o-terreno clandestinas na área.

João Carvalho, que realçou ser a atividade industrial das pedreiras a pôr a descoberto estas evidências, desejou que o local seja preservado, defendendo, por exemplo, a criação de um percurso pedestre para ligar este achado ao Monumento Natural Ourém – Torres Novas, à semelhança da existência de outros na zona.

“As pessoas que caminham aqui são pessoas que preservam e que gostam da natureza”, adiantou, realçando a possibilidade de “poderem ver ‘in situ’” pegadas de dinossauros.

Para João Carvalho, “era muito importante deixá-las quase como elas estão”, mas limpar e sinalizar, além de impedir a realização de atividades motorizadas.

A investigadora Vanda Santos, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, antecipou que, embora sem perceção do todo, porque há pegadas cobertas por brita, a descoberta “vai trazer mais informação, complementar”, ao que já se conhece da Pedreira do Galinha ou de Vale de Meios.

A paleontóloga, que trabalha com pegadas de dinossauros nas últimas três décadas, considerou tratar-se também de um desafio para a ciência.

“Eu espero, sinceramente, que isto nos traga mais informação”, adiantou Vanda Santos.

Na Pedreira do Galinha existe “um conjunto de 20 trilhos produzidos por dinossauros”, com marcas de pés e de mãos bem definidas, disse à agência Lusa o biólogo José Alho, antigo coordenador do monumento e responsável pelo programa de intervenção no espaço no final da década de 90.

Um desses trilhos, com 147 metros, é “o mais longo que se conhece produzido por dinossauros herbívoros e quadrúpedes de pescoço e cauda longos”, explicou José Alho, hoje vice-presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional de Lisboa Vale do Tejo com o pelouro do ambiente.

Este monumento abriu portas ao público em 1 de março de 1997. Além de uma área de receção com pequeno auditório e loja, tem um circuito de visitação à laje onde estão as pegadas, um jardim jurássico com painel sobre a História da Terra e um ‘Aramossáurio’, uma réplica em aço da espécie que deixou as pegadas.

*Silvia Reis (texto) e Paulo Cunha (fotos), da agência Lusa*