Em entrevista à agência Lusa, o presidente do conselho de administração da EMEL – Empresa Municipal de Mobilidade e Estacionamento de Lisboa recordou que está neste momento em curso um concurso para a aquisição de 1.500 bicicletas elétricas (lançado em fevereiro) e avançou que um novo procedimento para a aquisição de mais 600 bicicletas, também elétricas, está em preparação.

“Isso acompanhado pela aquisição de mais 30 estações, o que significa que esperamos nós que, em 2021, o sistema esteja reforçado e com muito maior disponibilidade para os utilizadores”, adiantou Luís Natal Marques, na oficina onde é feita a reparação das bicicletas, que passaram para a gestão exclusiva da EMEL em maio.

As 1.500 bicicletas deverão começar a chegar no último trimestre do ano e servirão para equipar as novas estações e reforçar as que já existem.

A empresa tem outras 300 bicicletas paradas na oficina, que ficaram na sua posse após a rescisão do contrato com a Órbita (que fazia a gestão da rede) e que deverão ser introduzidas no sistema “já em setembro ou outubro, com a ‘reentré'”.

Com a pandemia de covid-19, e tendo a EMEL suspendido a utilização do sistema de bicicletas partilhadas temporariamente, registou-se uma redução da procura “superior a 80%”, que começou a recuperar “gradualmente logo desde o início do mês de abril”, indicam dados fornecidos pela empresa à Lusa.

De acordo com a mesma informação, o número médio de viagens realizadas por dia em fevereiro foi de 5.672, tendo em março descido para 3.175, queda que se acentuou em abril com uma média de apenas 1.238 viagens por dia.

Em maio, o número médio de viagens diárias aumentou para 3.291 e em junho cifrou-se em 4.116. No mês de julho, e segundo dados até segunda-feira, a média diária situa-se nas 3.777 viagens.

Desde junho de 2017, quando o sistema entrou em funcionamento, foram realizadas cerca de 3,2 milhões viagens, tendo-se registado o maior número de viagens num dia em 22 de fevereiro do ano passado: 6.814.

Segundo Luís Natal Marques, das cerca de 700 bicicletas que a empresa tem na rua neste momento, 400 são convencionais e 300 elétricas. Quanto às estações, estão em funcionamento 83 de um total de 92 instaladas (nove inativas).

“O sistema foi concebido para que 2/3 do sistema fosse composto por bicicletas elétricas. No entanto, as elétricas têm aqui uma tecnologia do ponto de vista da reparação que é mais complicado”, explicou o presidente da EMEL, admitindo que essa percentagem não tem sido garantida.

Sobre a expansão da rede Gira para todas as freguesias da cidade, Luís Natal Marques sublinhou que esse é um processo “que demora o seu tempo”, recusando que esteja concluído em 2020 e escusando-se a avançar uma data concreta.

“Não faria sentido, por exemplo, nós levarmos as bicicletas para uma freguesia periférica, sem que o espaço entre essa freguesia e o centro da cidade fosse também municiado com outras estações”, argumentou.

O presidente da EMEL reforçou que “entre duas estações não pode ser o deserto”, realçando também que é “nas zonas de maior emprego e mais centrais da cidade” que as bicicletas Gira são mais utilizadas, sobretudo nas horas de ponta.

“Portanto, vai levar algum tempo a chegar à periferia, mas a intenção é, naturalmente, que o sistema abarque toda a cidade”, afirmou Natal Marques, ao contrário do que estimou o ano passado o vereador da Mobilidade da Câmara de Lisboa, Miguel Gaspar (PS), em declarações à Lusa, dizendo que esperava que o sistema pudesse estar em todas as freguesias até ao final de 2020.

Para já, as próximas freguesias a beneficiar das bicicletas partilhadas municipais serão Olivais e Campo de Ourique, referiu Luís Natal Marques, acrescentando que haverá também um reforço do sistema em Arroios, mais concretamente na Avenida Almirante Reis.

Sobre o ‘feedback’ recebido pelos utilizadores, o presidente da EMEL destacou que “a principal falha é a penúria de bicicletas” devido “ao elevado índice de utilização” do sistema que, na sua opinião, “atingiu em Lisboa a maturidade muito cedo”.

A rede de bicicletas Gira tem sido alvo de sucessivos atrasos, o que tem motivado algumas críticas de autarcas e utilizadores, que reclamam que o serviço não responde às necessidades.

EMEL defende mais espaço para peões e ciclistas em Lisboa e pede respeito pelas regras

“O espaço público em Lisboa, mais de 60% está afeto ao automóvel, portanto há aqui uma recuperação que temos de fazer para o peão, para o ciclista, permitindo sempre uma coexistência pacífica, porque sendo um espaço de todos temos todos de nos respeitar”, afirmou Luís Natal Marques, em declarações à agência Lusa.

Comentando o atropelamento mortal de uma jovem de 16 anos, ocorrido no dia 10, na zona do Campo Grande, o presidente da empresa municipal considerou que a cidade precisa de “uma convivência” entre automobilistas, peões e bicicletas, com uma “repartição em que o espaço público seja de todos e todos se respeitem uns aos outros”.

“Se é certo que todos nós somos peões, o que é certo é que mais de 60% da cidade está afeta ao uso do automóvel”, reforçou, destacando a importância do plano de ciclovias ‘pop up’ a ser desenvolvido pela Câmara de Lisboa.

O objetivo é “criar um espaço reservado para que toda a gente se habitue e para que perceba que no futuro vai nascer uma ciclovia mais definitiva, feita com outras condições, mas agora o que interessa é fazer a reserva do local para que as pessoas saibam que ali é um lugar reservado para ciclovias”, vincou Natal Marques.

O presidente da Câmara de Lisboa, Fernando Medina, anunciou no início de junho que o município vai criar 95 quilómetros de ciclovias 'pop up' até ao final de 2021, totalizando 200 quilómetros de rede ciclável.

Questionado sobre as condições de segurança das ciclovias da capital, o presidente da EMEL defendeu que “as questões de segurança" vão existir "sempre se as pessoas não se respeitarem, se não tiverem o cuidado de não assumirem comportamentos de risco”.

“Eu diria que é preciso perceber que quando um automobilista vê um peão ou um ciclista ele tem necessariamente de abrandar. E um ciclista quando vê um automóvel perto naturalmente também não deve nem pode assumir comportamentos de risco”, salientou.

Relativamente aos acidentes registados pela EMEL na utilização das bicicletas Gira, Natal Marques indicou que houve “55 acidentes em 2019”, tendo fonte oficial da empresa posteriormente corrigido para 40.

“São acidentes que normalmente resultam de quedas, de pequenas escoriações que resultam dessas quedas, nada substancialmente grave”, referiu, realçando que o desenvolvimento da rede de ciclovias “também é um elemento facilitador” e de consciência para que os próprios ciclistas não assumam “alguns comportamentos de risco".

“O que é certo é que estamos com índices absolutamente residuais de acidentes e, na minha perspetiva, bem”, sintetizou.

Na quinta-feira, centenas de ciclistas participaram numa vigília no Campo Grande, Lisboa, onde fizeram 16 minutos de silêncio em memória da jovem que morreu atropelada naquele local, na semana passada, e para alertar para o excesso de velocidade dos carros.

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