Após uma queda estimada de 3,3% em 2023, o declínio das emissões dos EUA praticamente estagnou, de acordo com a estimativa preliminar do centro de investigação Rhodium Group, em Nova York.

A projeção coloca os Estados Unidos perigosamente muito aquém dos seus compromissos, mesmo antes de o presidente eleito Donald Trump, um grande defensor dos combustíveis fósseis, assumir o cargo em 20 de janeiro.

De acordo com o Acordo de Paris de 2015, Washington comprometeu-se a reduzir para metade as emissões até 2030 em relação aos níveis de 2005 e a alcançar a neutralidade de carbono até 2050.

Uma perspetiva agora ameaçada pelo ritmo lento das mudanças observadas, afirmam os pesquisadores do Rhodium Group.

Para cumprir esse compromisso, os Estados Unidos terão de “manter uma ambiciosa redução anual de 7,6% das suas emissões entre 2025 e 2030”, estimam eles.

Este é “um nível que os Estados Unidos nunca experimentaram na história recente fora de uma recessão”, como durante a pandemia de covid-19, alertam os investigadores.

De acordo com os seus cálculos, “o modesto declínio em 2024” deveu-se principalmente à desaceleração da atividade industrial, causada em particular por greves e desastres naturais como o furacão Helene.

No entanto, o efeito dessa desaceleração foi compensado por um aumento no uso de transportes e na demanda de eletricidade, associado ao aumento do uso de ar-condicionado num ano de calor recorde.

De modo geral, de acordo com o relatório, as emissões acumuladas ainda são menores do que antes da pandemia, cerca de -20% abaixo dos níveis de 2005, o ano de referência.

 “Dececionante”

Esse resultado, registado durante a presidência do democrata Joe Biden, é “dececionante”, criticou Rachel Cleetus, da ONG americana Union of Concerned Scientists. Outros especialistas entrevistados pela AFP mostraram-se mais divididos.

Os ambiciosos planos apresentados pelo presidente que está a deixar o cargo, em particular os seus grandes investimentos na transição energética, “acelerarão o ritmo das reduções de emissões nos próximos anos”, dizem os investigadores do Rhodium Group.

Os números também mostram uma contínua “desconexão entre o crescimento económico e as emissões de gases de efeito estufa”, diz Ben King, coautor do estudo.

“Se observasse as curvas de há 10 ou 15 anos, veria que quando a economia crescia, as emissões aumentavam (...) e quando se contraía, as emissões diminuíam”, o que parece não ser o caso agora, disse à AFP.

Os Estados Unidos, a principal economia do mundo, pretendem fazer sua transição priorizando o crescimento económico, portanto esse desenvolvimento é “desejável”, concorda Michael Mann, professor de ciências ambientais da Universidade da Pensilvânia.

Outra boa notícia, segundo o relatório, é que, “pela primeira vez, a produção combinada de energia solar e eólica ultrapassou a do carvão”.

Incertezas

No entanto, essas previsões são baseadas em projeções e podem estar sujeitas a alterações. Por exemplo, o Rhodium Group corrigiu recentemente a queda nas emissões em 2023 para -3,3%, em comparação com uma estimativa inicial de -1,9%.

Quanto às previsões a longo prazo, elas irão depender em grande parte das políticas que Trump decidir implementar.

Os especialistas esperam que o magnata republicano, um notório cético em relação às mudanças climáticas, desfaça a longo prazo uma série de regulamentações e medidas adotadas pelo seu antecessor com o objetivo de reduzir as emissões poluentes.

Nesse cenário, o Rhodium Group prevê que o declínio nas emissões de gases de efeito estufa no país, o maior produtor mundial de petróleo e gás, seria de apenas -24% a -40% em 2035, em comparação com os -61% a -66% esperados atualmente.

Trump também poderia desrespeitar esse roteiro climático retirando-se do Acordo de Paris, do qual os EUA já tinham saído brevemente durante o seu primeiro mandato (2017-2021).

Uma perspetiva preocupante, uma vez que outros grandes atores económicos e industriais também se estão a atrasar nos seus compromissos.

De acordo com um estudo publicado na terça-feira, as emissões de gases de efeito estufa na Alemanha, o principal país industrial da Europa, também diminuíram em 2024.