“No futuro serão assim os barcos, também os automóveis e os apartamentos”, mas também “os bairros inteiros, mesmo os países”, diz Jerôme Delafosse, chefe da expedição e realizador de documentários.
Pele queimada do sol, faz parte de uma equipa de 10 pessoas que trouxe o “Energy Observer” a Lisboa, o princípio ainda de uma grande aventura que vai durar seis anos, com mais de 10 escalas em 50 países de todo o mundo.
O "Energy Observer" publicou no Twitter fotografias da sua passagem por Lisboa.
Partiu em junho do ano passado de Saint-Malo, França, já percorreu mais de nove mil milhas náuticas, e em Portugal vai estar até final do mês. Para mostrar que é possível viajar-se assim, só com energias renováveis, e para sensibilizar para a necessidade de um planeta que use menos combustíveis fósseis e mais combustíveis alternativos.
É Jerôme quem o diz à Lusa, admitindo que a velocidade do catamarã seria superior com outro tipo de combustível, mas chamando a atenção para o silêncio dos motores. “É o primeiro navio que funciona com energias renováveis, solar e eólica e hidrogénio”, diz, salientando depois a ausência de poluição e o silêncio que permite ouvir o mar.
A viagem serve também para testar todo o tipo de tecnologia em situações extremas, para depois a adaptar a outras embarcações, a habitações, a todo o tipo de transportes.
Jorge Seguro Sanches, secretário de Estado da Energia, acredita que é possível esse futuro. Esteve hoje no catamarã. Esteve na inauguração de uma exposição sobre o “Energy Observer” e disse que a iniciativa é uma inspiração para Lisboa, para Portugal e para todo mundo. E especialmente para Portugal, o terceiro país da Europa que em 2016 mais incorporou energias renováveis.
“A questão do armazenamento (da energia) e o aproveitamento do hidrogénio vão fazer toda a diferença nos próximos anos”, disse o secretário de Estado na inauguração da exposição.
“O grande desafio que temos pela frente, para um país como o nosso que tem aproveitado bem a energia renovável, na transição energética e na eletrificação, é se temos ou não capacidade de a armazenar. Essa capacidade faz toda a diferença, ou através das baterias ou através de modelos como este (o “Energy”), que tecnologicamente têm um grande potencial e que tem a ver com hidrogénio. Este modelo mostra que é possível”, adiantou depois à Lusa.
Jorge Seguro Santos lembrou que ainda esta semana o Governo assinou no Conselho da Energia, na Áustria, uma declaração “no sentido da promoção do hidrogénio na produção na área das energias renováveis”. E Portugal, lembrou, está também a desenvolver um roteiro do hidrogénio.
O entusiasmo de Jorge Seguro Santos não difere do entusiasmo de Jerôme Delafosse. "Um navio agora, transportes públicos amanhã, porque para esses já começou o processo irreversível de cada vez mais se deixarem as energias fósseis”.
Para já está em Lisboa, e depois no Porto, o “Energy”, e a exposição itinerante de mais de mil metros quadrados junto à Doca da Marinha, com entrada livre.
Ao largo, no Tejo, o catamarã, com um sistema que combina três fontes de energia com o duplo armazenamento de baterias a hidrogénio, produzido a bordo por eletrolise da água do mar.
O projeto teve o patrocínio do Presidente francês, o apoio da União Europeia e da UNESCO, além de vários parceiros, e vai andar pelo mundo a falar das energias renováveis, da biodiversidade, da agroecologia, da economia circular, dos objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU.
Uma iniciativa que “simboliza o futuro da energia”, como resumiu o fundador do projeto e “skipper” Victorien Erussard, queimado do sol como Jerôme, o mesmo entusiasmo por uma aventura de seis anos.
A estabilidade do catamarã irá torná-la mais fácil. E a energia produzida a bordo alimenta todas as máquinas, incluindo a do café.
A acreditar nas palavras de Jerôme, longe das cidades, em mar alto, com os motores em pleno, se calhar o som da máquina do café será o mais audível no “Energy”, além do mar.
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