Em entrevista à agência Lusa, a diretora-geral do Património Cultural, Paula Silva, afirmou que em Portugal estamos ainda longe da saturação de públicos, como acontece noutras cidades europeias, mas que já este ano se vão desenvolver práticas que limitem o acesso de públicos à Torre de Belém, em Lisboa.
No ano passado, a Torre de S. Vicente, conhecida como de Belém, por causa da zona da capital onde se localiza, recebeu 685.694 visitantes, um aumento de 12,8% em relação a 2015, que sobre aos 35%, nos últimos cinco anos.
“Relativamente à Torre de Belém [em Lisboa], nós vamos ter de limitar [o acesso dos] públicos já este ano. Estamos a estudar isso, nos meses de maior pressão, julho e agosto, pelo menos. Mas será uma coisa que se manterá”, disse a dirigente da Direção-Geral do Património Cultural (DGPC).
A responsável afirmou que, neste momento, esta medida só se equaciona para a Torre de Belém, onde a ideia é “limitar de hora a hora a entrada de público no monumento”, estando em discussão o modelo a adotar.
Para já, Paula Silva adiantou a possibilidade de “desagregar a visita à Torre Belém do bilhete conjunto, que inclui a entrada no [vizinho] Mosteiro dos Jerónimos”.
“Se vender individualmente, estamos já limitar o número de visitantes e estamos a obrigar as pessoas a comprar o bilhete específico, e depois limita-se o número de vendas para um dia”, explicou.
A Torre de Belém, construída há 500 anos, sob o traçado de Francisco de Arruda, apresenta uma gramática decorativa em estilo manuelino, com referências marinhas e o brasão real de D. Manuel I e a esfera armilar.
O edifício à beira rio foi perdendo a sua função de defesa da barra do Tejo, assim como a alfandegária e a de farol, tendo sido também utilizada como prisão de presos políticos no reinado de Filipe I de Portugal (II de Espanha).
A Torre de Belém foi classificada como monumento nacional em 1907. Em 1983, passou a fazer parte da lista de Património da Humanidade da UNESCO e, em 2003, foi eleita uma das Sete Maravilhas de Portugal.
Questionada sobre se iam ser tomadas medidas idênticas relativamente ao Mosteiro dos Jerónimos, que no ano passado foi o equipamento mais visitado, no universo tutelado pela DGPC, tendo ultrapassado um milhão de entradas, Paula Silva foi perentória: “não, até porque o monumento aguenta bem”.
O Mosteiro dos Jerónimos, explicou a arquiteta, “tem picos de visitantes relativamente a algumas horas, mas tem uma grande dimensão e aguenta bem, são grandes salas e aquele claustro imenso que aguenta uma carga de pessoas muito grande”.
Neste monumento Paula Silva só identificou “o problema da entrada”, mas referindo que, “filas há por aí, em todo o lado na Europa”.
A construção do Mosteiro dos Jerónimos, em estilo manuelino, foi iniciada em 1501 e dada por concluída cerca de um século depois, tendo sido dirigidas as obras, entre outros, pelos arquitetos Diogo de Boitaca, João de Castilho e Diogo de Torralva.
O mosteiro acolheu a Ordem de S. Jerónimo até 1833. Atualmente são visitáveis os claustros, as capelas, nomeadamente onde se encontram sepultados Alexandre Herculano e Fernando Pessoa, a sacristia e a igreja, onde se encontra o panteão real vis-Beja, e os túmulos de Luís de Camões e de Vasco Gama, e o coro alto.
“A Torre de Belém e o Mosteiro dos Jerónimos são os únicos monumentos que geram mais receitas do que despesas”, realçou Paula Silva.
Outras partes do mosteiro albergam a Biblioteca de Marinha e os museus de Marinha, tutelado pelo ministério da Defesa, e o Nacional de Arqueologia, pela DGPC.
Segundo dados da direção-geral, este museu recebeu no ano passado 146.955 visitantes, um aumento de 33% relativamente a 2015.
Paula Silva disse à Lusa que o museu deverá ser “reformulado, até porque não é alvo de obras, há décadas”.
Questionada sobre a sua transferência para a Cordoaria Nacional, na Junqueira, no âmbito do projeto “Casa da Arqueologia”, como chegou a ser anunciado pelo Governo, em 2012, Paula Silva sentenciou: “Não está em cima da mesa”.
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