“Os métodos clássicos obrigam a escavar e a deslocar um grande volume de solo para aceder ao minério. Foi daí que surgiu a ideia de explorarmos debaixo de água, sem que fosse necessário drenarmos a água ou até recorrermos a explosões”, adiantou José Miguel Almeida, investigador coordenador no Centro de Robótica e Sistemas Autónomos do INESC TEC.

O sistema robótico, que começou a ser desenvolvido há quatro anos no âmbito do projeto europeu 'VAMOS!' (Viable Alternative Mine Operating System), teve como principal propósito a "criação de uma nova forma de minerar a terra", sem "barulhos" ou "vestígios" que indicassem que a mina estava a ser utilizada para explorações.

"As minas terrestres são muitas vezes abandonadas, ou porque estão muito perto de populações, ou por questões económicas. A verdade é que o custo de bombear a água e os riscos associados podem tornar inviável a exploração", explicou à Lusa o investigador, que é também professor no Instituto Superior de Engenharia do Porto.

Segundo José Miguel Almeida, este sistema, composto por um veículo de mineração subaquático que pesa 25 toneladas, um submarino de inspeção autónomo - o robô EVA - que apoia a operação e um barco de suporte, permite, ao "cortar a rocha e minério debaixo de água e ao bombear o material extraído para a superfície", que a exploração se torne "menos poluente" e "mais ecológica".

"A ideia é que ao minerarmos debaixo de água apenas onde há minério e sem retirarmos tanto volume de solo e de rocha, a exploração se torne menos poluente, tenha um impacto no ambiente menor, gaste menos energia e seja mais ecológica em termos de ruído e de poeiras que levanta", frisou.

Das 17 entidades que compõe a equipa do projeto 'VAMOS', o INESC TEC foi o instituto responsável pela criação do robô EVA e pelo desenvolvimento de todos os sistemas sensoriais que permitem a navegação e operação deste equipamento de 25 toneladas.

"O INESC TEC foi responsável pela parte sensorial. No caso do EVA, este movimenta-se em torno do local de mineração e atualiza, de forma constante, um mapa 3D [três dimensões] da área, transmitindo a informação ao veículo maior e auxiliando na navegação", disse o investigador.

Assim, através de vários sensores de navegação e exatidão que constituem os robôs, os dados são recolhidos e enviados para um piloto que, no centro de controlo, consegue ter acesso "num ambiente de realidade virtual".

"O operador está numa sala de controlo e num dos monitores consegue acompanhar a máquina a operar, não através de imagens, porque a água é túrbida e não há visibilidade, mas de um mapa", esclareceu.

José Miguel Almeida adiantou que, apesar de o sistema só ser apresentado em janeiro à Comissão Europeia para a avaliação final do projeto, já existem algumas empresas mineiras interessadas no equipamento desenvolvido.

"Nos próximos dois anos acreditamos que haverá um sistema destes a operar em várias minas terrestres", admitiu o investigador.