
A também fundadora das Escolas de Segunda Oportunidade afirmou que o número de jovens que não aprendeu nada nas escolas é “trágico”, questionando como é que estes podem encontrar emprego e ter lugar na sociedade se não sabem coisas básicas como ler, escrever e contar.
Durante a conferência internacional “Escolas de Segunda Oportunidade: 20 anos após o Projeto Piloto da UE, Desafios Futuros”, em Matosinhos, no Porto, a ex-governante referiu que numa sociedade onde o plano tecnológico é cada vez mais uma realidade, estes alunos não têm ferramentas para acompanhar essa evolução e alteração.
“A muitos dos jovens que frequentem estas escolas temos de lhes ensinar a dizer coisas básicas, que geralmente se aprendem em casa, como bom dia, obrigada ou desculpe, na verdade ensinamos-lhes a saber estar em sociedade”, frisou.
Édith Cresson recordou que muitos desses alunos chegam a estas escolas sem saber nada, mas também sem querer aprender nada porque se habituaram a nada compreender.
“São jovens que vêm de famílias onde nunca um livro entrou em casa, por exemplo”, vincou.
O objetivo destas escolas é mostrar-lhes que as coisas existem e que eles próprios fazem parte de uma comunidade, de uma história e de uma pátria, sendo por isso importante mostrar-lhes locais históricos, falar-lhes nos grandes escritores e artistas, sobretudo estimular-lhes a curiosidade, explicou.
A ex-primeira-ministra de França lembrou que esses jovens conhecem poucas pessoas, sendo os seus horizontes limitados, por isso, é importante quebrar esse muro que existe entre eles e a sociedade.
Progressivamente, eles aprendem a aprender e a comportar-se, sublinhou, acrescentando que alguns deles, embora poucos, decidem continuar a estudar.
Partilhando a sua experiência, Édith Cresson adiantou que em França existem 15.000 alunos a frequentar escolas de segunda oportunidade com uma taxa de sucesso entre 60 a 65%, o que significa que grande parte deles conseguem um emprego ou retomam os estudos.
Com uma permanência entre oito meses a um ano nestas escolas, os alunos, entre os 18 e 25 anos, têm durante esse período três estágios em empresas, o que é “extremamente importante”, avançou.
A conferência internacional incluiu-se na edição de 2018 da Youth Summit que, entre hoje e sexta-feira reúne, em Matosinhos, mais de uma centena de jovens provenientes de nove países e 16 organizações internacionais.
As escolas de segunda oportunidade surgiram em 1997, no âmbito de um projeto-piloto da Comissão Europeia que resultou das conclusões do Livro Branco "Ensinar e Aprender: Rumo à Sociedade Cognitiva", coordenado por Edith Cresson, que era então Comissária Europeia da Educação.
A rede europeia então criada sobreviveu ao corte no financiamento europeu e ao encerramento de muitas escolas de segunda oportunidade, hoje vistas como o embrião de um sistema de ensino mais inclusivo e capaz de prevenir o abandono escolar precoce.
O mais recente relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), “Society at a Glance 2016”, dá conta de que 34% dos jovens portugueses não completam a sua formação secundária, registando Portugal a terceira maior taxa de desqualificação de jovens em toda a OCDE, só ultrapassada pela Turquia e pelo México.
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