Depois de cinco dias com o país em quarentena, o número de infetados e mortos continua a aumentar em Espanha. Entre quarta e quinta-feira, as mortes por Covid-19 aumentaram em quase 30%, passando de 598 para 767, e os casos detetados aumentaram 25%, de 13.716 a 17.147.

Com estes números divulgados na quinta pelo ministério da Saúde, a Espanha aparece já muito próxima do Irão, o terceiro país do mundo com mais infetados depois da China e da Itália.

"Os dias mais difíceis estão a chegar (...). Continuaremos a ver um aumento no número de casos, e isto será assim enquanto não nos aproximarmos do pico da curva" de contágios, reconheceu em conferência de imprensa o ministro da Saúde, Salvador Illa.

É previsto um salto importante nos próximos dias, quando as autoridades começarem a fazer testes rápidos a todas as pessoas suspeitas, que até agora não eram possíveis por falta de material de deteção suficiente.

Entre as medidas usadas para refrear a expansão do vírus, o governo ordenou ontem o encerramento de todos os hotéis no país, que é um dos mais importantes destinos turísticos internacionais.

Um "exército" na saúde: estudantes de medicina e enfermagem, enfermeiros que não conseguiram vagas e reformados

Face ao aumento no número de casos, o ministério incorporou um contigente de milhares de funcionários da área da saúde, entre estudantes de medicina e enfermagem dos últimos períodos, médicos que estão a fazer residência e enfermeiros formados que não conseguiram vagas no sistema público de saúde.

"Mais de 30 mil profissionais estão à disposição e foram incorporados aos poucos ao Sistema Nacional de Saúde", disse o ministro,  um número que também inclui a recontratação de 14.000 médicos e enfermeiros na reforma.

A Ordem dos Médicos denunciou nesta quinta uma situação "insustentável" para os profissionais da área, submetidos a longas jornadas de trabalho e por vezes sem material de proteção adequado, segundo informaram em comunicado.

Nesta quinta ocorreu a primeira morte de um trabalhador da área da saúde em Espanha desde o início da pandemia, uma enfermeira de 52 anos.

Para tentar resolver a falta de material, o ministério, com ajuda das forças policiais, conseguiu reunir 1,5 milhões de máscaras, além de outros equipamentos de saúde.

A ajuda chega também do setor privado. Na região de Valença, costureiras do pequeno povoado de Pedrel costuraram 10.000 máscaras, e uma empresa de moda juvenil interrompeu a sua produção habitual para fazer o mesmo.

Segundo a imprensa espanhola, o grupo Inditex, proprietário da marca Zara, também planeia fabricar máscaras e roupas de proteção. Em Barcelona, a empresa BCN3D ofereceu suas 63 impressoras 3D para confeccionar material.

Residências de idosos

Embora o país disponha de um sistema de saúde avançado, o surto do coronavírus é uma ameaça séria. Dos mais de 4.000 camas de UTI, 939 já estão ocupados por pacientes com a doença.

A situação é especialmente crítica na região de Madrid, principal foco de contágio, concentrando 40% dos infectados e 65% das mortes no país.

O governo anunciou um fundo de 300 mil milhões de euros de apoio aos idosos e a criação de residências maiores depois de que vários deles terem morrido nos lares de cuidado.

"Temos problemas nas residências (de idosos), e isso obriga-nos a adotar uma ordem muito restrita" sobre o funcionamento desses lares que deverá ser publicada na próxima sexta, disse Fernando Simón.

Espanha ordena fecho de todos os hotéis por coronavírus

O país ordenou também o fecho de todos os hotéis no seu território, de forma a conter a expansão da pandemia, segundo foi publicado nesta quinta-feira no Boletim Oficial do Estado (BOE).

A ordem estabelece "a suspensão de abertura ao público de todos os hotéis e alojamentos semelhantes, alojamentos turísticos e outros alojamentos de curta estadia, situados em qualquer parte do território nacional", diz o BOE.

A regra prevê que os hotéis do país, o segundo destino turístico do mundo, fechem no mais tardar dentro de um período de sete dias decorridos a partir desta quinta-feira.

Somente estabelecimentos sazonais ou de longa permanência poderão continuar abertos, desde que disponham da infraestrutura necessária para que os seus ocupantes possam cumprir o quase total confinamento imposto na Espanha como resultado do coronavírus.

A Espanha é o segundo país europeu mais afetado e o quarto ao nível mundial, com17.147 casos e 767 mortos.

Desde sábado passado que o governo espanhol decretou estado de emergência. As autoridades decretaram medidas rígidas para manter a população confinada e conter a expansão do vírus.