“Essas empresas que foram envolvidas em escândalos de corrupção, sobretudo na Lava Jato, terão de se reinventar. Vivemos agora uma onda moralizadora, como foi visto durante o processo eleitoral. O candidato vencedor [Jair Bolsonaro] vinha com esse discurso de combate à corrupção e se essas empresas não encontrarem outras fontes de financiamento que não seja o próprio Governo, elas não vão conseguir crescer mais”, declarou Nauê Azevedo, analista político e professor da Universidade de Brasília (UnB).
A Operação Lava Jato desvendou um esquema de corrupção em várias empresas públicas, como a petrolífera Petrobras, mas também grandes construtoras como Odebrecht ou a Andrade Gutierrez.
Implicadas em escândalos de corrupção, dentro e fora do Brasil, que abrangiam o continente Africano, estas duas construtoras viram a operação Lava Jato, uma investigação da justiça brasileira focada no desvio de recursos públicos e branqueamento de capitais, desvendar vários esquemas ilegais.
As empresas pagavam subornos a políticos em troca de benefícios em decisões governamentais, aprovação de leis e concessões de obras públicas.
Segundo a investigação, envolvido nesses projetos ilícitos estava também o Banco Nacional de Desenvolvimento Económico e Social brasileiro (BNDES) que terá concedido empréstimos a países africanos, como é o caso de Moçambique, em troca da atribuição de obras públicas nesses países às empresas brasileiras em causa.
“Essas empresas (Andrade Gutierrez e Odebrecht) sofreram um embate muito grande por causa das operações anticorrupção e isso certamente vai influenciar (o crescimento das construtoras)” disse Nauê, acrescentando que Bolsonaro irá evitar o investimento em África, apesar da integridade das empresas brasileiras estar salvaguardada por seguros.
“A linha do futuro executivo de Bolsonaro aparenta ser mais nacionalista no sentido de (não) investir nesses países (africanos) como fez o Governo do Partido dos Trabalhadores (PT). Os países dão calotes, mas as empresas não saem prejudicadas dos negócios porque existe um seguro. Então, quando um país não paga ao BNDES, o tesouro nacional vai lá e paga. Mas agora essa fonte vai secar”, considerou o analista político.
Tanto o grupo Andrade Gutierrez como a Odebrecht, cresceram muito com base numa estratégia de absorção de recursos públicos, em que acabaram por vencer muitas licitações públicas e, na visão do professor brasileiro, as empresas não têm outra opção senão procurarem outros segmentos de atuação: “Ou essas empresas se reinventam e abrem novos nichos de mercado ou elas vão passar por um período absurdamente ruim”.
Nauê Azevedo acredita ainda que Jair Bolsonaro irá ter um mandato onde se vai revelar uma desvalorização e descrédito pelas relações com a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), em detrimento de uma assumida prioridade de estreitar laços com os Estados Unidos da América (EUA).
“Acredito que, pelo menos no início, a tendência seja essa (afastamento da CPLP), de ele virar um pouco as costas para essas relações e vai tentar alinhar-se mais com os EUA e com o grupo que pressione por um livre comércio”, afirmou o especialista à agência Lusa.
Bolsonaro e o seu executivo tomam posse a 01 de janeiro.
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