Segundo Pedro Costa Júnior, cientista político e professor de Relações Internacionais das Faculdades Integradas Rio Branco, como o Brasil e a América Latina não são prioridade na agenda externa americana, seja qual for o candidato eleito na votação da próxima terça-feira não deve haver uma nova política para a região.

“Pouca coisa deve mudar após a eleição nos Estados Unidos. A relação deste país com o Brasil é sólida e independente das trocas de Governo. Nem o Brasil nem a América Latina foram mencionados pelos candidatos que disputam a Casa Branca nos debates porque ambos são pouco relevantes nos Estados Unidos, a não ser quando se fala da questão dos imigrantes”, analisa.

Já o professor de relações internacionais da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP) Carlos Gustavo Poggio argumenta que do ponto de vista económico, os avanços ou retrocessos na relação bilateral Brasil e Estados Unidos não dependem desta eleição, mas sim de projetos de Governo da nação sul-americana.

“O Brasil é um país muito fechado do ponto de vista comercial. Os Estados Unidos são seu segundo maior parceiro de negócios, ficando atrás apenas da China, mas o país não possui um acordo comercial para fortalecer esta relação. Qualquer mudança para aumentar as trocas comerciais e investimentos depende mais do Brasil do que do Governo americano”, pontua.

Ressaltou, porém, que se os brasileiros quisessem negociar um acordo comercial com os Estados Unidos possivelmente encontrariam mais resistência do candidato republicano Donald Trump do que da candidata democrata Hillary Clinton.

Isto é possível porque Trump tem anunciado que se for eleito pretende retirar os Estados Unidos de blocos comerciais e fechar o mercado norte-americano a produtos estrangeiros.

“A eleição de [Donald] Trump tem um viés negativo não na relação bilateral [Brasil e Estados Unidos], mas sim do ponto de vista global já que ele defende políticas isolacionistas e protecionistas, que podem afetar o comércio no mundo e, claro, neste contexto, também o Brasil”, frisou.

Pedro Costa Júnior concorda com posição defendida pelo professor da FAAP e avança citando as propostas antagônicas deles sobre o tema imigração.

“Se eleita, Hillary [Clinton] deve tentar regularizar a situação dos imigrantes que moram no país sem permissão até porque historicamente eles votam nos candidatos democratas. Já Donald Trump prometeu expulsar os imigrantes ilegais, falou em construir um muro na fronteira com o México e aprovar leis para evitar principalmente a entrada de latino-americanos e muçulmanos nos Estados Unidos. Estes planos foram mal recebidos pela comunidade internacional”, diz.

A construção do muro na fronteira do México também foi lembrada pelo professor Carlos Gustavo Poggio como uma mudança negativa causada pela eleição norte-americana.

“Se [Donald] Trump se tornar Presidente e adotar tais medidas contra o México não vejo clima para uma aproximação dos países da América Latina com os Estados Unidos. Mesmo o Brasil, que está em crise e quer alianças para sair desta posição, tende a reagir negativamente [ao muro]. Isto provocaria uma reação internacional ruim”, concluiu.