“O estado da nação pode ser, em parte, respondido pelo estado da governação e, para o Governo, parece que o lema é: ‘o país segue dentro de momentos’”, criticou Pedro Filipe Soares em declarações à agência Lusa, no âmbito do debate sobre o Estado da Nação, que decorre esta quarta-feira na Assembleia da República.
Segundo o líder parlamentar do Bloco de Esquerda (BE), “há problemas estruturais que estão hoje a afetar a vida das pessoas que deveriam ter sido acautelados, prevenidos e, de certa forma, até dirimidos, e o Governo tem-se escudado sempre quando chega o momento de tomar decisões”.
Após o BE ter sido um dos principais parceiros da ‘geringonça’ – até votar contra as propostas de Orçamento do Estado em 2020 e 2021 –, Pedro Filipe Soares frisou que, comparando esse período com o da atual maioria absoluta, “o Governo não mudou, piorou”.
“Se já antes não ouvia a oposição e, quando o BE tinha alguma capacidade de influência, [o Governo] rejeitava essa capacidade (…), agora ainda está pior. A maioria absoluta funciona sempre como um enorme tampão nos ouvidos dos governantes”, sublinhou.
Pedro Filipe Soares destacou a necessidade de uma resposta para o “aumento do custo de vida, quer pela parte dos salários, quer pela parte do controlo de preços”, apelando ainda a que se “garanta que não há abusos que prejudiquem ainda mais as pessoas neste momento de crise”.
“Nós olhamos para os lucros da Galp, da EDP, para os lucros do Pingo Doce, do Continente, e nós percebemos que estes lucros aumentam à medida que a crise se agiganta no nosso país, e eles fazem parte daqueles que estão a lucrar com a desgraça alheia”, indicou.
No entanto, o líder parlamentar do BE reiterou que o “Governo recusa fazer qualquer coisa” sobre estes assuntos, preferindo “empurrar com a barriga todas as soluções para os problemas”.
“Vemos, portanto, um Governo que, sobre os problemas estruturais do país – as alterações climáticas, o aumento do custo de vida, a inflação – não toma medidas, deixa que esses problemas se avolumem, se agigantem, na expectativa que a realidade os resolva por obra e graça do funcionamento normal da vida”, frisou.
Para Pedro Filipe Soares, “um Governo que não governa, toma uma escolha” por aqueles que “vivem à custa dos demais” e por “uma pequena elite que está a beneficiar enquanto a larga maioria” do povo “está a ficar prejudicada com esta governação”.
O estado da nação “é, portanto, o estado de uma nação que empobrece, porque o Governo não decide como deveria decidir”, considerou.
Projetando as prioridades legislativas do BE para setembro – quando o parlamento retomar os trabalhos após interrupção para férias –, Pedro Filipe Soares frisou que o seu partido irá dar “corpo a um conjunto de iniciativas para salvaguardar o poder de compra das pessoas, quer no salário, quer por via dos serviços públicos, quer por via da necessidade de materialização dos direitos, seja na habitação, seja nos transportes públicos”.
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