Em declarações ao canal norte-americano MSNBC, John Kirby afirmou que “não houve envolvimento dos Estado Unidos neste caso” e que as autoridades de Washington continuam a avaliar a situação.
A Presidência russa responsabilizou hoje os Estados Unidos pelo alegado ataque, na quarta-feira, depois de Kiev já ter negado qualquer implicação na suposta operação.
“Os esforços de Kiev e de Washington para negarem responsabilidades são absolutamente ridículos. As decisões sobre este tipo de ataques não são tomadas em Kiev, mas em Washington. Kiev está apenas a fazer o que lhe mandam”, acusou o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, numa conferência de imprensa.
Em resposta, o seu homólogo na Casa Branca acusou Peskov de mentir: “Nós não fazemos isso”, disse Kirby, acrescentando que os Estados Unidos “não ditam [à Ucrânia] o modo como se defendem ou as operações que realizam” e ainda que desencorajam Kiev de ataques fora do seu território.
Na quarta-feira, o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, negou igualmente responsabilidades sobre o alegado ataque.
“Não estamos a atacar Putin ou Moscovo, estamos apenas a lutar no nosso território, a defender as nossas vilas e cidades”, disse Zelensky em Helsínquia, em conferência de imprensa coletiva conjunta com os líderes da Finlândia, Dinamarca, Suécia, Noruega e Islândia.
“Não atacamos Putin, deixamos isso para um tribunal”, disse o chefe de Estado ucraniano, referindo-se aos esforços para que a comunidade internacional encontre mecanismos para processar o Presidente russo pela agressão militar contra a Ucrânia.
Zelensky encontra-se hoje nos Países Baixos e visitou o Tribunal Penal Internacional, em Haia, onde insistiu na criação de um tribunal especial para julgar a agressão russa contra o seu país.
Na sua análise diária à guerra na Ucrânia, o Instituto para o Estudo da Guerra (ISW, na sigla em inglês) sugere que o alegado ataque contra o Kremlin foi uma encenação, com o objetivo de “estabelecer condições para uma mobilização social mais ampla”.
O grupo de analistas norte-americanos do ISW refere que as autoridades russas tomaram recentemente novas medidas de defesa aérea interna, inclusive na zona de Moscovo, e que, por isso, “é extremamente improvável” que os ‘drones’ tenham conseguido atravessar as várias estruturas defensivas.
O Comité de Investigação da Rússia abriu na quarta-feira um processo criminal pelo que classificou de “ataque terrorista” e, no mesmo dia, o ex-Presidente russo e número dois do Conselho de Segurança de Moscovo, Dmitry Medvedev, pediu a “eliminação” Zelensky, como forma de retaliação.
Nas declarações hoje à MSNBC, Kirby pronunciou—se também sobre o posicionamento recente do presidente da Câmara dos Representantes, o republicano Kevin McCarthy, favorável à continuidade do apoio dos Estados Unidos à Ucrânia, ao contrário de uma ala do seu partido.
O porta-voz da Casa Branca saudou as palavras de McCarthy e disse “a maioria dos Republicanos da Câmara ainda é a favor do apoio à Ucrânia”, classificando os representantes que se opõem como “uma pequena minoria”.
A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro de 2022 pela Rússia na Ucrânia causou até agora a fuga de mais de 14,6 milhões de pessoas — 6,5 milhões de deslocados internos e mais de 8,1 milhões para países europeus -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Pelo menos 18 milhões de ucranianos precisam de ajuda humanitária e 9,3 milhões necessitam de ajuda alimentar e alojamento.
A invasão russa — justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de “desnazificar” e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia – foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.
A ONU apresentou como confirmados desde o início da guerra 8.709 civis mortos e 14.666 feridos, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.
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