Alterações da frequência ou do local de compras dos alimentos (34,3% e 10,6%, respetivamente) e alterações do horário de trabalho (17,6%) são as razões mais apontadas pelos participantes no “Inquérito nacional sobre hábitos alimentares e atividade física”, que foi realizado em parceria com o Instituto de Saúde Ambiental da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa e cujos resultados foram publicados hoje.
Outros motivos apontados pelos 45,1% dos participantes que alteraram os comportamentos alimentares no confinamento devido à pandemia de covid-19 estão associados ao stresse (18,6%) e a mudanças no apetite (19,3%), concluiu também o estudo realizado entre 09 de abril e 04 de maio, com uma amostra de 5.874 indivíduos maiores de 16 anos.
O receio da situação económica (10,3%) foi um determinante das alterações alimentares, com um terço a manifestar preocupação com uma eventual dificuldade no acesso a alimentos e 8,3% a relatar ter mesmo dificuldades económicas.
O estudo indica que os inquiridos passaram a comer mais em casa (56,9% passaram a cozinhar mais), reduzindo o consumo de refeições pré-preparadas (40,7%) ou take-away (43,8%).
Cerca de 31% passaram a consumir mais 'snacks' doces, 31,4% começaram “a petiscar mais frequentemente”, enquanto 29,7% aumentaram o consumo de fruta e 21% de hortícolas.
“Alguns destes comportamentos, associados ao aumento dos níveis de sedentarismo, podem explicar a perceção de peso aumentado durante este período (26,4% da amostra)”, salientam os autores do estudo.
Algumas alterações no comportamento alimentar parecem ter acontecido de modo agregado, tendo-se identificado um padrão alimentar menos saudável, caracterizado pelo aumento do consumo de snacks salgados, refeições pré-preparadas, refrigerantes e 'take-away' e, por oposição, por uma diminuição do consumo de fruta e hortícolas.
Este padrão de comportamento alimentar foi mais comum nos inquiridos mais jovens, do sexo masculino, com mais dificuldades financeiras e em risco de insegurança alimentar.
Relativamente à prática de atividade física, 60,9% reportaram níveis baixos, 22,6% disseram ser moderadamente ativos e 16,5% relatam níveis elevados.
O estudo adverte que a prevalência de pessoas com níveis baixos de atividade física praticamente duplicou quando comparada com estudos populacionais anteriores.
Durante o confinamento, 53,6% dos inquiridos perceciona ter diminuído a prática de atividade física, 28% afirma ter mantido e 18,5% aumentado.
“A duração do tempo em situação de confinamento parece ter também um efeito particular na prática: Nas mulheres observa-se uma diminuição da prática de atividade física naquelas que estão há mais tempo em confinamento. A tendência parece ser a oposta para os homens”, sublinha o estudo.
A saúde (60,9%), gestão do stresse (55,1%) e a prática estratégica para evitar ganho de peso (35,1%) são os motivos mais apontados para fazer exercício.
Entre as principais atividades praticadas, destacam-se a caminhada (32,3%), atividades de fitness (25,4%), treino de força (18%) e a corrida (14,1%).
O estudo revela que os homens praticam mais treino de força e corrida e as mulheres mais atividades de fitness. Quanto à atividade física não estruturada, 70% referem tarefas domésticas e 50% subir/descer escadas, um comportamento que não era a escolha habitual.
Relativamente ao tempo que passam sentados, reclinados ou deitados, 33% disseram passar três ou menos horas neste tipo de comportamento e 38,9% sete horas ou mais.
A maioria revela passar o tempo sedentário a ver televisão (70%), seguindo-se as atividades recreativas ao computador/tablet/telemóvel (60,6%), o teletrabalho (36,5%) e a leitura de livros (31,4%).
Segundo o estudo, quase 80% procuraram informação sobre saúde e consideraram útil a publicada pela DGS.
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