Segundo a Fundação Calouste Gulbenkian, "o inquérito reúne informação socialmente relevante e estatisticamente representativa da população residente em Portugal, regiões autónomas incluídas", sobre temas desde "consumos culturais através da Internet, da televisão e da rádio", atingindo também as "práticas de leitura em formato impresso e digital" ou visitas a "museus, monumentos históricos, sítios arqueológicos e galerias de arte", passando ainda pelas "idas ao cinema, concertos e espetáculos ao vivo, incluindo festivais e festas locais".

O inquérito inclui dados de 2.000 pessoas, recolhidos "através de entrevista direta e pessoal na residência dos inquiridos" — com 15 ou mais anos —, "entre os dias 12 de setembro e 28 de dezembro de 2020".

Os dados recolhidos "revelam significativas desigualdades sociais no acesso à cultura, em função do perfil sociográfico dos inquiridos". A título de exemplo, "há práticas culturais minoritárias, com destaque para os espetáculos eruditos, que não estão ao alcance de todos", explica a Gulbenkian.

Por outro lado, é referido que "é possível que a oferta cultural nas plataformas digitais, indiciada, em contexto pandémico, por uma relativa intensificação dos usos da Internet no domínio cultural, possa acentuar-se no futuro" — tudo isto aliado à "crescente escolarização dos jovens", que "poderá também ampliar os horizontes de participação cultural quando se equaciona o futuro".

Internet e consumos culturais

  • 71% dos inquiridos utilizam a Internet — uma percentagem que "fica aquém da média alcançada pelos países da UE-27 (87%) para inquiridos dos 16 aos 74 anos (Eurostat 2021)";
  • Em causa podem estar "razões de natureza demográfica, educacional e económica". Neste sentido, de apontar que a população portuguesa é "uma das mais envelhecidas" da Europa — "apenas cerca de um em cada quatro dos inquiridos com 65 ou mais anos de idade usa a Internet";
  • É ainda referido que a infoexclusão está "correlacionada com as qualificações académicas e o poder económico". Assim, "os inquiridos estão tanto mais desconectados da Internet quanto mais baixo é o seu nível de instrução e de rendimentos";
  • Motivos indicados para não se usar a Internet: "défices de conhecimento (falta de interesse/não vê utilidade; não sabe como usar/sente-se confuso com a tecnologia) e económicos (não tem acesso a um computador ou à Internet; é muito caro);
  • De acordo com as conclusões do estudo, "em média, os inquiridos passam mais tempo na Internet para trabalho ou estudo (18 horas por semana) do que por lazer (10 horas semanais)". Todavia, "a percentagem dos que se ligam diariamente à Internet por lazer (82%) é dupla em relação aos que a ela acedem para trabalho/estudo (41%)";
  • A média de horas semanais de acesso à Internet para trabalho ou estudo "é semelhante entre homens (19h) e mulheres (18h)", mas o caso muda de figura no que toca ao lazer: "os homens passam, em média, 12 horas por semana na Internet em atividades de lazer, as mulheres não ultrapassam as 9 horas";
  • Práticas culturais na Internet, pelo menos uma vez semana: 35% das pessoas ouviram música, 33% leram sites de notícias, 27% procuraram informações precisas (o significado de palavras, factos históricos, etc.), 16% fizeram buscas na Wikipédia e outras enciclopédias online e 15% procuraram informação sobre livros, música, cinema e espetáculos;
  • Qual o efeito da pandemia na cultura através da Internet? segundo o estudo, "os inquiridos intensificaram o uso da Internet no domínio cultural, sobretudo os jovens dos 15 aos 24 anos: 40% passaram a ver mais filmes e séries; 21% a ler mais livros, jornais e revistas online; e 16% a ver mais espetáculos de música".

Televisão e rádio

  • A percentagem de inquiridos que veem diariamente televisão (90%) é mais do dobro dos que diariamente ouvem rádio (40%) ou se ligam à Internet (41%);
  • Quem vê mais televisão? Segundo o estudo, "os idosos (65 ou + anos) e os inquiridos de rendimentos mais baixos, em claro contraste com os mais jovens (15 a 34 anos), os mais instruídos e os de mais elevados rendimentos";
  • O que é mais visto? "Notícias, reportagens e informação (81%), filmes (57%), séries (43%), telenovelas (40%), documentários (36%) e programas desportivos (33%);
  • E o mais ouvido? "Em relação à rádio – sobretudo ouvida em deslocações de carro por 66% dos inquiridos –, os programas habitualmente mais seguidos são os de notícias e informação (59%) e música popular (50%). Porém, a audição de música clássica (12%) não anda longe da audiência de programas de desporto, incluindo relatos de futebol (17%)".
  • O que aconteceu durante a pandemia? O estudo conclui que "o contexto pandémico levou a que 23% dos inquiridos passassem a ver mais televisão e a ouvir um pouco mais de rádio (5%)".

Livros

  • Segundo o estudo, "a percentagem de inquiridos portugueses que, no último ano, não leram qualquer livro impresso (61%) é francamente superior à registada na vizinha Espanha, há um ano (38%)";
  • Qual o motivo para ler? "A larga maioria dos inquiridos portugueses (68%) lê livros por prazer, percentagem que se eleva entre os mais idosos e os de mais baixa instrução. Os que menos prazer retiram da leitura (43%) são os jovens dos 15 aos 24 anos, precisamente os que mais leem para estudar ou realizar trabalhos escolares (45%)";
  • Como se escolhem as leituras? O estudo concluiu que "as escolhas de leitura são fortemente influenciadas pelas redes sociais, sejam elas offline ou online: 43% das recomendações surgem dos círculos da família, amigos e colegas de trabalho; 16% de comentários de amigos nas redes sociais online e 10% buscam-se em sites de redes sociais virtuais especializados na leitura e avaliação de livros";
  • É ainda apontado no estudo que, "na sua infância e adolescência, a maioria dos inquiridos não beneficiou de estímulos à leitura gerados em contexto familiar. Nunca os pais ou qualquer outro familiar os acompanharam a uma livraria (em 71% dos casos), a uma feira do livro (75%) ou a uma biblioteca (77%); nem tão-pouco lhes ofertaram um livro (47%) ou os deleitaram com a leitura de um livro de histórias (54%);

Arte, museus e monumentos

  • De acordo com o estudo divulgado, "nos 12 meses anteriores ao início da pandemia, 31% dos inquiridos visitaram monumentos históricos, 28% frequentaram museus, 13% deslocaram-se a sítios arqueológicos e 11% frequentaram galerias de arte";
  • 70% dos visitantes com escolaridade superior frequentaram estes espaços, contra apenas 11% com escolaridade até ao 3.º ciclo;
  • Por sua vez, "a maior parte dos visitantes (58%) deslocou-se a outro concelho do país e 12% ao estrangeiro", o que é considerado "potenciador do reforço da identidade nacional";
  • Quais são os espaços mais visitados? Mosteiro dos Jerónimos (63%), a Torre de Belém (61%) e o Mosteiro da Batalha (59%). As escolhas derivam maioritariamente da questão da "importância histórica do espaço, assinalada por 40%" das pessoas;
  • Nestas visitas, apenas 4% dos inquiridos as realizam sozinhos: 65% vão com familiares, 27% com namorado/a ou amigos e 8% com um grupo de escola;
  • Quais os motivos para não se visitar mais vezes um espaço patrimonial? De acordo com o estudo, "sobressaem a falta de tempo (para 39% dos inquiridos) a falta de interesse ou preferência por outras atividades (38%) e o preço elevado (21%)";
  • Por sua vez, "as visitas a espaços patrimoniais através da Internet voltam a privilegiar os monumentos históricos (visitados por 14% dos inquiridos) e os museus (13%).

Festas e festivais, cinema e espetáculos

  • Segundo os dados apresentados, "nos 12 meses anteriores ao início da pandemia 41% dos inquiridos foram ao cinema, percentagem que duplicou entre os jovens dos 15 aos 24 anos (82%)";
  • Pessoas que mais vão ao cinema: "com formação superior, grandes empresários, profissionais liberais e residentes na área metropolitana de Lisboa e na Região Autónoma da Madeira";
  • Como se escolhe o filme a ver? "Os motivos mais conducentes à escolha do último filme radicam em atributos intrínsecos do mesmo: o tema do filme (para 33% dos respondentes) e os atores ou o realizador (para 18%); são também assinaladas as recomendações de familiares e amigos (15%), o convívio (12%) e as críticas (7%)";
  • Qual o motivo para não se ir mais vezes ao cinema? É apontada "a falta de tempo (25%), a falta de interesse (22%), a possibilidade de se ver filmes na televisão e em outros suportes digitais (15%) e o elevado preço dos bilhetes (14%)";
  • Por sua vez, "no conjunto de espetáculos e concertos ao vivo, os festivais e festas locais foram os mais frequentados (38%)", seguidos pelos "concertos de música ao vivo (24%), o teatro (13%) e o circo (7%)";
  • Quais os espetáculos menos frequentados? As conclusões mostram que se assiste menos a "música clássica (6%), ballet ou dança clássica (5%) e ópera (2%)";
  • Quem vai mais a festivais e festas locais? A escolha "é transversal a toda a população", mas as festas locais atraem "quem tem habilitações escolares mais reduzidas, tendo uma forte implantação na Região Autónoma dos Açores". Neste sentido, "as mais frequentadas são as festas tradicionais populares (49%), as festas religiosas (40%) e as de gastronomia (11%);
  • E a espetáculos eruditos, como ballet ou música clássica? Estes são "francamente preferidos por inquiridos com rendimentos elevados, grandes empresários, profissionais liberais, profissionais socioculturais e gestores".