O estudo foi publicado esta segunda-feira na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS) e sugere que a variante do vírus (G4) da gripe suína (H1N1) tem "todas as características essenciais para ser candidato a vírus pandémico".

Entre 2011 e 2018, a equipa de investigadores recolheu 30.000 amostras nasais de porcos em matadouros de 10 províncias chinesas, permitindo-lhes isolar 179 vírus da gripe suína. Destes, constatou-se que a frequência do G4 EA H1N1 estava a aumentar desde 2016.

De acordo com o The Guardian, foram conduzidas várias experiências — incluindo em furões, espécie amplamente utilizada em estudos sobre gripes porque revelam sintomas similares aos humanos. E foi possível constatar que a variante G4 é altamente contagiosa e causou sintomas mais gravosos nos furões do que outros vírus.

Segundo o estudo, 10,4% dos trabalhadores da indústria de carne suína já foram infetados — análises ao sangue revelaram anticorpos criados pela exposição ao vírus. Os testes também revelaram que a imunidade que o homem ganha durante a exposição da gripe sazonal não garante proteção ao vírus.

Ou seja, o vírus já passou dos animais para o homem, mas não há evidências de transmissão entre seres humanos, a maior preocupação dos cientistas. Contudo, os autores do estudo salientaram que "é preocupante que a infeção no homem com o vírus G4 promova a adaptação humana e aumente o risco de pandemia". Por isso, pedem medidas urgentes para monitorizar as pessoas que trabalham nas pecuárias e matadouros.

Apesar deste vírus infetar os seres humanos, não existe risco eminente de uma nova pandemia, de acordo com Carl Bergstrom, biólogo da Universidade de Washington, citado pelo The Guardian. "Não há qualquer evidência que o G4 esteja a circular em humanos, mesmo após cinco anos de exposição extensiva ao vírus. Este é o contexto chave que é preciso ter em mente", afirmou.

Em declarações ao jornal Público, Telmo Pina Nunes, epidemiologista na Faculdade de Medicina Veterinária de Lisboa, também considera que não há motivos de alarme, mas que devemos estar atentos. "Não implica ter uma resposta imediata, mas implica preparar essa resposta de forma eficaz", disse.

Esta terça-feira um porta-voz da Organização Mundial da Saúde já frisou que a OMS irá analisar o estudo cuidadosamente.

"[A investigação] salienta também que não podemos baixar a nossa guarda [relativamente] à gripe e precisamos de permanecer vigilantes e continuar a sua monitorização mesmo com a pandemia do novo coronavírus", explicou Christian Lindmeier.

O Ministro dos Negócios Estrangeiros chinês, Zhao Lijian, disse esta terça-feira numa conferência de imprensa diária que a China está a monitorizar a situação de perto. "Tomaremos todas as medidas necessárias para prevenir a propagação e surto de qualquer vírus", disse.

Gripe H1N1

Em junho de 2009, a OMS decide declarar estado de pandemia devido à gripe provocada pelo vírus H1N1, subindo o nível de alerta pandémico para o mais elevado, por risco substancial de transmissão.

Contudo, comparando com a anterior pandemia de gripe registada, que em 1968 matou cerca de um milhão de pessoas, na pandemia de H1N1 passou-se para um terço da mortalidade.

Portugal também foi afetado em 2009 e 2010 pela gripe H1N1, havendo registo de 124 mortes, segundo o Relatório da Pandemia da Gripe em Portugal da Direção-Geral da Saúde.

A pandemia de gripe A H1N1, que inicialmente começou por ser designada como gripe suína, nasceu precisamente em zonas de criação de porcos no México.

Na gripe sazonal, que ocorre todos os anos, a estirpe do vírus que circula é sempre aparentada de outras que já circularam e com as quais grande parte da população já teve contacto.

Há ainda a diferença da altura em que surge e da sua duração: a pandemia não se sujeita apenas a tempo frio e demora muito mais tempo. A pandemia de gripe A durou, por exemplo, mais de um ano.

Graças à simplificação com que passou a ser designada, a pandemia de H1N1 acabou por trazer “má fama” ao vírus da gripe A, que ocorre em muitas das gripes sazonais registadas.

* Com agências 

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