O líder da minoria democrata na Câmara dos Representantes, Hakeem Jeffries, encontrou-se com colegas preocupados quanto à possibilidade que o caos provocado pelo debate com o ex-presidente republicano Donald Trump, no qual Biden perdeu o raciocínio quanto ao que estava a dizer várias vezes e pareceu confuso, coloque em risco as eleições.

Um congressista, que falou sob a condição de anonimato com a imprensa dos Estados Unidos, descreveu a reunião como "intensa". Outro disse que havia um sentimento "quase unânime" de que Biden deveria passar o testemunho nesta corrida.

No entanto, na reunião plenária do partido realizada mais tarde, houve indícios de que Biden ganhou terreno. Vários parlamentares declararam a sua lealdade ao presidente.

Jerry Nadler, democrata de maior patente no Comité Judiciário da Câmara, apoiou-o, apesar de vários relatos na imprensa indicarem que ele tinha sugerido recentemente que o presidente deveria abrir caminho para outro candidato.

"Ele disse que vai continuar [na corrida], ele é o nosso candidato e todos vamos apoiá-lo, espero que todos apoiemos", disse a jornalistas.

Biden comprometeu-se a cumprir um segundo mandato completo se for reeleito, afirmou a sua porta-voz, Karine Jean-Pierre, nesta terça. Acrescentou que ele recebeu o apoio de grupos de legisladores afro-americanos e hispânicos, bem como de parlamentares da ala progressista como Alexandra Ocasio-Cortez.

"No momento, o presidente Biden é o candidato e apoiamos o candidato democrata que derrotará Donald Trump. É um facto", declarou o congressista Peter Aguilar após a reunião dos democratas da Câmara.

Até agora, a maioria dos democratas tem apoiado publicamente Biden, mas o partido permanece dividido desde o debate, que foi assistido ao vivo por cerca de 51 milhões de americanos.

Mikie Shrrill tornou-se na sétima congressista democrata a pedir abertamente a Biden que não tente a reeleição. "Ele simplesmente tem de renunciar", afirmou o democrata Mike Quigley, da Câmara dos Representantes, à CNN.

A crise tem causado agitação no partido quando faltam menos de quatro meses para as eleições. "Não acho que alguma vez tenha estado num ambiente político mais complicado na minha vida", reconheceu o senador John Hickenlooper.

Biden reafirmou na segunda-feira que está determinado a permanecer na corrida e desafiou os democratas insatisfeitos a candidatarem-se durante a convenção do partido em agosto.

O presidente mais velho na história dos Estados Unidos afirmou que o seu mau desempenho no debate, durante o qual ficou de boca aberta várias vezes, foi devido a uma "má noite" causada por uma constipação e pelo jet lag de viagens internacionais.

A Casa Branca também interveio. O seu médico pessoal afirmou esta segunda-feira que Biden foi examinado por um especialista em doença de Parkinson apenas como parte de exames neurológicos de rotina durante o seu exame médico anual.

À tarde, Biden dirigiu-se aos líderes da NATO reunidos numa cimeira em Washington, num discurso fluido acompanhado por perto tanto a nível nacional como pelos aliados internacionais, que temem o regresso do isolacionista Trump. Lendo de um teleponto, Biden discursou energicamente sobre o "momento da história" atual.

Até agora, os esforços de Biden não conseguiram convencer o conselho editorial do jornal The New York Times. Num artigo crítico, argumentou que os democratas "precisam de dizer-lhe a pura verdade".

"Eles precisam de dizer que o seu desafio ameaça dar a vitória ao Sr. Trump. Eles precisam de dizer que ele está a ridicularizar-se e a colocar em perigo o seu legado", insistiu o editorial do jornal.

Biden está atrás nas sondagens e a atenção dos media agora concentra-se nas suas fraquezas, em vez do seu rival, Trump, alvo de condenações judiciais e que ainda tem vários processos em aberto.

O próprio republicano, de 78 anos, rompeu dias de silêncio desde o debate, declarando à Fox News na segunda-feira que acredita que Biden resistirá à pressão e permanecerá na corrida. "Ele tem um grande ego e não quer desistir", considerou o ex-presidente (2017-2021).