De acordo com o estudo desenvolvido pela Universidade de Yale, a Rússia enviou estes milhares de menores ucranianos para esses campos ou outras instalações desde o início da invasão do território ucraniano em 24 de fevereiro de 2022.
Numa conferência de imprensa, o especialista Nathaniel Raymond, diretor executivo do Laboratório de Investigação Humanitária de Yale, indicou ter “provas” de que a Rússia violou a Convenção de Genebra e “outros elementos” do direito internacional sobre os direitos dos menores e a sua proteção num conflito armado.
Segundo a investigação, Moscovo mantém menores ucranianos em 43 centros, dos quais 41 foram usados no passado para acampamentos de verão infantis.
Raymond também especificou que “78% das instalações realizam alguma forma de reeducação de menores ucranianos, principalmente de áreas como Donetsk e Lugansk”, no leste da Ucrânia.
O especialista acrescentou que há outros menores que confirmaram que foram colocados no sistema de adoção e em orfanatos russos.
Nathaniel Raymond chamou ainda a atenção para o alcance geográfico “massivo” destas atividades russas, porque os centros para onde os menores ucranianos são enviados existem em várias localizações, como a península da Crimeia – ocupada pela Rússia em 2014 -, Moscovo, o Mar Negro e a Sibéria.
E ainda uma instalação deste tipo em Magadan, na costa do Pacífico da Rússia, “mais perto do continente americano do que de Moscovo”, observou Raymond.
O especialista explicou que existem dois grupos de menores envolvidos neste processo, um dos quais é integrado pelas crianças procedentes de Donetsk e Lugansk, que constituem a maior parte das 6.000 crianças, cujo número foi calculado com base em relatórios de transferências para campos de reeducação.
O segundo integra o que a Rússia chama de “retirados” de Kherson, Kharkov e Zaporijia, que segundo Nathaniel Raymond estão a ser colocados no sistema de adoção russo.
O especialista norte-americano destacou que foi possível identificar cerca de 32 centros onde estão a ser realizados “esforços sistemáticos de reeducação” para “expor” os menores ucranianos à educação militar, além da educação académica russa e do patriotismo cultural.
Outra responsável pelo estudo norte-americano, Caitlin Howarth, explicou que quando se fala de treino militar, não se trata de menores sentados numa sala de aula a ouvir o que dizem os seus instrutores, mas que consiste “em manusear armas de fogo”.
“Temos imagens vídeo e fotografias (dos menores) a passar por estradas com obstáculos, em treinos físicos, a conduzir viaturas e armas”, indicou.
Raymond concluiu que, com esses atos, a Rússia está a adotar uma abordagem abrangente a nível governamental para reeducar, realocar e realizar adoções forçadas de menores ucranianos.
“Isso é exatamente consistente com o que presumiram alguns dos primeiros julgamentos de elementos do regime nazi perante o tribunal de Nuremberga. Certamente não há confusão no direito internacional: as ações da Rússia são ilegais e podem constituir um crime de guerra e contra a Humanidade”, afirmou.
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