O essencial do debate em 5 pontos

Quem ganhou em termos de presença / clareza?

Rui Tavares venceu hoje, no que toca a estes dois pontos. Tanto nas críticas, como nos argumentos e também na apresentação de medidas foi mais claro e melhor preparado.

Houve frases/momentos que se vão tornar virais? Quais?

Viral, talvez não, mas tendo em conta o dia em que acontece o debate, há uma frase que marca o distanciamento que Pedro Nuno Santos quer marcar do primeiro ministro: "Eu não sou igual a Luís Montenegro".

Que temas dominaram (e quais ficaram de fora)?

O combate à corrupção e a herança social dominaram o debate. A saúde e a segurança ficaram de fora.

Quem esteve mais à vontade e quem esteve mais pressionado?

Ambos estavam confortáveis, até porque foi um debate amigável, com ambos os lados a tratarem-se por tu. No entanto, se alguém acusou mais pressão hoje, foi Pedro Nuno Santos.

Que impacto pode ter nas sondagens?

O apelo constante de Pedro Nuno Santos ao voto útil pode ter resultado para chegar ao eleitorado de esquerda mais indeciso. No entanto, mesmo com a possibilidade de não ter sido intencional, o tom condescendente por vezes utilizado pelo socialista para fazer este apelo pode ter tido um efeito adverso.

Seria estranho começar o debate de hoje com outro tema que não fosse os documentos publicados por Pedro Nuno Santos, na sequência da averiguação preventiva do Ministério Público. O líder socialista começou por clarificar que não teve como objetivo criticar o trabalho da Procuradoria-Geral da República, mas aproveitou a deixa para fazer outra crítica, como seria expectável, a Luís Montenegro. Entre as várias farpas, tentou ao máximo distanciar-se do primeiro-ministro, deixando claro que não recebia "dinheiro de uma empresa todos os meses".

Já Rui Tavares, rematou com uma frase que deverá marcar o debate de hoje: "O meu trabalho é falar das pessoas que não têm casa. Não das que tem duas casas e podem usufruir delas". Ainda assim, pode-se dizer que ficou ao lado de Pedro Nuno Santos, uma vez que afirma que ambos têm o trabalho de provar às pessoas que existe uma alternativa ao executivo de Luís Montenegro.

Combate à corrupção

Nenhum fugiu ao tema da corrupção. Tanto para o discutir, como para apresentar medidas. Algo que às vezes se perde nos debates destas legislativas. Pedro Nuno Santos mostrou-se confiante ao dizer que "grande parte do combate à corrupção foi feito pelo PS". Nas medidas, a regulamentação do lobbying parece ser uma prioridade para o Partido Socialista.

Já Rui Tavares, aposta muito na prevenção para o combate à corrupção e as medidas que apresenta mostram isso mesmo. Entre as medidas que propõe para evitar a corrupção, nomeadamente na política, destaca-se a criação de uma auditoria aos ministros para evitar possíveis conflitos de interesse antes do começo dos mandatos.

É ainda no tema da corrupção que surge a primeira menção, por parte de Pedro Nuno Santos, de um tema que dominou o debate - o apelo ao voto útil. Inicialmente com alguma subtileza, o secretário-geral do PS admite que o Livre tem contributos importantes para uma boa governação, e aproveita para dizer que tem muito mais hipóteses de ser ouvido num governo do PS do que no PSD. O tom é irónico e condescendente, e a maneira como o apelo é repetido ao longo do debate não deixa de mostrar uma certa intimidação pelo partido de Rui Tavares.

Voto útil

Tratam-se por tu, e com muita educação, chegando mesmo a pedir desculpa quando se interrompem. Não deveria mas não deixa de ser um feito raro, tendo em conta os últimos debates. É também através desta simpatia que Pedro Nuno Santos faz várias vezes, ao longo do debate, a ponte entre as ideias do Livre e do Partido Socialista. Refere várias vezes os temas que os aproximam, com algumas críticas pelo meio, sempre com o objetivo de apelar ao voto útil. É nas entrelinhas das táticas utilizadas pelo socialista, que não deixa de aparecer uma certa pressão, caso contrário, o tema não seria trazido tão exageradamente como foi.

Certificados de aforro à nascença

É uma das medidas que mais une e separa os dois partidos em simultâneo. As propostas de certificados de aforro dos dois partidos tem algumas diferenças, nomeadamente, o valor. Enquanto o PS propõe 500 euros, o Livre propõe 5 mil, o que Pedro Nuno Santos considera irrealista e diz que serve para afastar eleitores. Para o socialista a proposta é muito cara, apesar de custar menos do que o IRS Jovem.

Já Rui Tavares recorre ao argumento da falta de produtividade. Acusa o PS de já ter tido medidas de herança social planos eleitorais e não terem sido realizadas durante as cinco oportunidades de governação. O porta-voz do Livre acredita que taxar os super-ricos resultaria em receitas suficientes para os certificados de aforro, mas Pedro Nuno Santos discorda.

Apesar de acabar por cair, por vezes, numa espécie de populismo, especialmente perante os jovens, Rui Tavares não deixa de fazer perguntas inteligentes e acima de tudo apresentar medidas, durante todo o debate, com argumentos claros para apoiá-las.

Já Pedro Nuno Santos, apesar de manter um discurso claro, acaba por cometer um exagerado apelo ao voto útil. Apresenta soluções para o país, e talvez numa tentativa de aproximação ainda na estratégia do voto útil, não critica tanto o Livre como é criticado. Tem uma presença menos forte neste debate do que o expectável, mas ainda assim mantém o "pé no chão" e demonstra ser o líder realista que muitos eleitores procuram.