"Glenn Youngkin escreveu um manual", disse Leonard Steinhorn, professor de comunicação na American University de Washington, para um "populismo familiar residencial suburbano", distante das declarações inoportunas de Trump

Youngkin, um empresário bilionário de 54 anos estreante na política, superou nesta terça-feira o democrata Terry McAuliffe na Virgínia, que já governou o estado de 8 milhões de habitantes, vizinho da capital Washington DC.

O republicano beneficiou de uma mobilização excecional do eleitorado republicano e manteve a base de Trump, que manifestou o seu apoio ao candidato desde muito cedo.

Youngkin, contudo, distanciou-se o suficiente do ex-presidente para conseguir atrair um eleitorado moderado, como as mães de famílias brancas dos subúrbios, apesar dos esforços democratas de destacar a proximidade entre ambos.

"Não funcionou porque Youngkin não agiu nem falou como Trump", afirmou J. Miles Coleman, do Centro de Política da Universidade da Virgínia.

Apesar de ter mantido alguma sinalização para os eleitores trumpistas, Youngkin desvencilhou-se do ex-presidente, cujo estilo descarado havia afastado muitos eleitores nos subúrbios de classe média e alta, particularmente as mulheres brancas.

Youngkin recebeu o apoio de Trump ao falar de "integridade eleitoral", uma referência codificada às falsas afirmações do ex-presidente de que teria vencido as eleições presidenciais de 2020. Contudo, não fez menções ao magnata durante a campanha eleitoral, nem o convidou para seus comícios na Virgínia.

O agora governador também atacou a "teoria crítica da raça", que vê o racismo nos Estados Unidos como um sistema perpetuado pela maioria branca para manter seus privilégios, e não como um preconceito individual contra as minorias.

O republicano criticou diversas vezes o ensino dessa teoria nas escolas públicas da Virgínia, um estado cujo passado esclavagista é alvo de debates acalorados, apesar de os democratas e especialistas terem afirmado que a mesma não fazia parte do programa escolar.

Os pais preocupados, e mais atentos aos afazeres escolares dos seus filhos devido ao fechamento das escolas pela pandemia, criticaram o que classificam de "ideias radicais".

Youngkin, ele mesmo um pai de família, reivindicou que os pais fossem "respeitados" e consultados sobre o conteúdo dos programas de ensino na educação pública.

"Ele utilizou uma fórmula de populismo trumpista, mas fê-lo de uma forma muito inteligente que, eu acredito, se transformará no manual republicano para as eleições intercalares do próximo ano", disse Steinhorn.

Além disso, o governador eleito opôs-se à obrigatoriedade de vacinação contra a covid-19 e ao uso obrigatório de máscaras nas escolas, temas caros aos republicanos.

Batalhas internas

Youngkin também beneficiou da incapacidade de Biden para conseguir a aprovação no Congresso dos seus planos ambiciosos de investimento, por diferenças entre moderados e progressistas dentro do Partido Democrata, algo que prejudicou claramente a campanha de McAuliffe.

"Fala-se de batalhas internas, desordem, disfuncionalidade", mas "os americanos querem resultados", opinou Steinhorn.

Para Coleman, a derrota na Virgínia é um péssimo sinal para os democratas com vista às eleições legislativas de meio mandato do ano que vem, historicamente desfavoráveis ao partido governante, que ostenta uma maioria frágil no Congresso.

Para reverter os prognósticos, Biden deve recuperar a sua autoridade sobre um partido fragmentado, opina Peter Loge, especialista em mídia da Universidade George Washington.

Steinhorn, por sua vez, acredita que as eleições da Virgínia representaram uma "chamada de alerta" para os democratas e uma "oportunidade" para os republicanos.

"Donald Trump não estará no boletim eleitoral" das eleições legislativas, por isso "a pergunta aos republicanos é: O quão visível será Donald Trump?", acrescentou. Se o ex-presidente "começar a percorrer o país com os seus comícios dizendo coisas extremas e intempestivas, e promovendo teorias da conspiração, isso pode ser contraproducente para o Partido Republicano", assinalou Steinhorn.

"Para os democratas, a melhor notícia é que ainda resta um ano para que eles se possam reinventar e mudar a narrativa", disse o professor. "Já para os republicanos, a melhor notícia é que encontraram um manual com Glenn Youngkin", concluiu.