"A eleição de Donald Trump para Presidente dos EUA traz consigo um lote acrescido de imprevisibilidade e de incertezas, sendo plausível um período mais longo de ajustamentos ou mesmo, digamos, de aprendizagem por ensaio-e-erro no plano da política externa da nova administração, com todos os riscos inerentes", afirmou.
Jorge Sampaio discursava como orador convidado na sessão solene de abertura do ano letivo do Instituto de Defesa Nacional, Lisboa, com uma "lição inaugural" com o tema "A nova Europa dividida, algumas reflexões e achegas de geo-política".
Sampaio afirmou que as dificuldades económicas e as desigualdades sociais, a par com a dificuldade em lidar com o "choque cultural" que "está a abrir brechas nas sociedades europeias", explicam o "esboroamento a olhos vistos da confiança na União Europeia, nas suas instituições e nos seus líderes".
Aos olhos dos cidadãos, disse, "está em causa o fraco ou mau desempenho da governação europeia e a sua incapacidade em gerar emprego e prosperidade" ou em encontrar soluções para o terrorismo, a gestão das fronteiras ou a questão dos refugiados e das migrações.
Isto ajuda a explicar, considerou, o surgimento de partidos e movimentos de extremos, e o reforço de partidos anti-europeus e populistas que advogam o regresso dos nacionalismos e o fecho de fronteiras.
"Parece-me que a confiança hoje está abalada de forma sistémica e sistemática", disse, questionando se a desconfiança será reversível "para evitar o alastramento dos populismos de toda a sorte".
Nesse quadro, se a saída do Reino Unido da União Europeia é "inquietante", a eleição de Donald Trump como presidente dos EUA "reforça inquietações".
"Olhando para o resultado das eleições presidenciais americanas, creio que há razões tangíveis que reforçam inquietações e pessimismo pois está claro que todas estas tendências vão no mesmo sentido, reforçando-se negativamente", disse.
Nesse sentido, acrescentou, é "impossível não olhar já para as eleições de 2017 em França e na Alemanha como próximas etapas prováveis desta corrida para o abismo", vaticinou.
"Neste contexto europeu e internacional, reconstruir a confiança constitui a meu ver um desafio grande, moroso, complexo mas incontornável", defendeu, sugerindo a "revitalização da ideia de democracia" e da estabilidade e equidade social.
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