Na pequena cidade Palm Coast, na costa atlântica da Florida, com um total de 90 mil habitantes, a recente visita da candidata a vice-presidente pelo Partido Democrático, Kamala Harris, a Orlando e Jacksonville passou praticamente desapercebida.
A crise sanitária que se agrava no estado da Florida nota-se pelo uso de máscara sanitária, mas há poucos estabelecimentos encerrados ou desempregados nas ruas, ao contrário do que acontece em Miami ou em Orlando, onde se encontra a Disney World, um dos maiores parques de atracões do mundo.
A campanha eleitoral para as eleições presidenciais de novembro em Palm Coast é visível em alguns cartazes de campanha dos dois partidos em alguns cruzamentos da principal via de acesso ao mar e pelas indicações sobre a localização das assembleias de voto onde os cidadãos podem votar antecipadamente em todo o estado.
Aqui, a situação económica do país é a principal preocupação dos portugueses, que expressam sobretudo vontade em apoiar um segundo mandato do candidato republicano à Casa Branca.
“Donald Trump é um milionário que não precisava de política, mas ele quer deixar o nome no mundo. O homem não é tonto. Eu trabalhei para ele na construção da ‘Trump Tower’ em Nova Iorque como responsável pelos trabalhos de carpintaria”, diz um reformado de português sentado ao balcão do bar do centro cultural luso-americano, ponto de encontro da comunidade de Palm Coast.
Além de uma percentagem elevada de reformados, provenientes sobretudo de Newark, no estado de Nova Jérsia, a venda e compra de terrenos e a construção de casas são algumas das principais atividades profissionais junto da comunidade portuguesa, constituída por cerca de sete mil pessoas.
Mesmo apesar do apoio a Donald Trump, o presidente do clube português afirma que as políticas republicanas em relação à imigração estão erradas.
“A única coisa em que sou contra é a política de imigração. Nós temos de ter uma amnistia para regularizar os emigrantes que estão ilegais e fala-se em 11 milhões. Os que cometeram crimes aqui devem ser mandados para trás, mas deve-se legalizar aqueles que trabalham aqui dia a dia e têm cá a família e os filhos a estudar”, disse à Lusa António Amaral empresário português residente em Palm Coast, acrescentando que há falta de emigrantes no país.
“Não temos trabalhadores. Os americanos não querem trabalhar nem cortar relva ou fazer um telhado”, frisa o empresário que ajudou a fazer crescer a cidade.
Em Palm Coast, onde a “taxa de crime” não é alta nem preocupante, há sete polícias de origem portuguesa que referem a importância da integração na sociedade norte-americano e criticam a forma “excessiva” como as autoridades estão a ser tratadas a nível nacional após os casos de violência racista.
“Não podemos julgar a polícia inteira por causa de um caso. Aqui na América temos cerca de um milhão de contactos por ano com o público que são positivos, mas agora só estão a ver um ou dois casos por ano que são negativos”, lamenta Kenny Gonçalves, o primeiro polícia de origem portuguesa a integrar a força do Departamento do Xerife de Palm Coast.
Líder de clube português na Florida preocupado com economia
“Trump tem de voltar a ganhar. Nos últimos quatro anos a economia evoluiu. Todos os negócios se desenvolveram desde que Trump venceu. Para mim o Trump tem sido muito bom para a economia”, disse à Lusa António Amaral, presidente do centro cultural que apoia declaradamente a reeleição do chefe de Estado.
“A economia evoluiu cerca de 75% na nossa cidade porque isto é uma bola que roda. Quando tudo funciona toda a gente ganha dinheiro: há construção, há mais trabalhos, há mais vendas”, frisa o empresário de 69 anos, emigrante nos Estados Unidos desde 1965.
Amaral ajudou a nascer a pequena cidade de Palm Coast, onde se concentra a maior comunidade portuguesa do estado da Florida, constituída por “cerca de sete mil portugueses que são maioritariamente empresários e emigrantes reformados do estado de Nova Iorque”.
Palm Coast fica situada na costa norte da Florida, sob clima tropical e a poucos quilómetros de St Agustine "a mais antiga cidade estabelecida por europeus (espanhóis) na América", em 1565.
António Amaral, que era emigrante em Newark, New Jersey, recorda que começou a vender terrenos em Palm Coast numa altura em que “não havia nada”, tendo depois, como construtor, edificado milhares de casas que ajudaram no “nascimento” da cidade.
O empresário recorda os anos em que a crise económica de 2008 afetou a economia e, por isso, faz um “balanço positivo” da atual administração norte-americana.
“Sinceramente, quem anda nos negócios sabe que o Trump pôs este país a trabalhar, a economia ficou boa. Com os democratas, a classe média - como eu - vai ter de trabalhar para sustentar essas pessoas todas que não querem trabalhar. Se o Trump não continuar, este país vai para baixo. É garantido. Aqui não há muito desemprego. Ou melhor, agora com a covid-19 há desemprego, mas antes estava a 03% aqui na Florida”, afirma.
“A América para mim é um país de oportunidades. Existe um sonho americano e toda a gente tem oportunidade de triunfar neste país para quem é honesto e trabalhador e qualquer pessoa que luta e trabalha não tem de ir para nenhuma guerra ou cair na pobreza”, considera o português que continua a acreditar na “terra das oportunidades”.
“Este país oferece o que nenhum país oferece, na minha opinião. Eu cheguei aqui com 14 anos e aos 17 anos tive o primeiro carro, com o meu dinheiro. Apesar de que só custou 100 dólares”, recorda o empresário que agora conduz um carro muito maior e mais caro do que o primeiro.
Os Estados Unidos realizam no dia 3 de novembro eleições presidenciais, nas quais o atual inquilino da Casa Branca, o republicano Donald Trump, concorre à reeleição contra o democrata Joe Biden.
Por: Pedro Sousa Pereira (texto) e Mário Cruz (fotos) da agência Lusa
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